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Analistas políticos questionam razões que levaram João Lourenço a mudar posicionamento sobre a guerra na Ucrânia


Tomada de posse de João Lourenço, Presidente de Angola. Ao seu lado a primeira-dama, Ana Dias Lourenço
Tomada de posse de João Lourenço, Presidente de Angola. Ao seu lado a primeira-dama, Ana Dias Lourenço

Depois de Angola ter optado pela abstenção na Assembleia Geral das Nações Unidas no conflito entre a Ucrânia e a Rússia, o Presidente instou agora Moscovo a tomar a iniciativa de pôr fim ao conflito

O Presidente angolano desafiou na quinta-feira, 15, as autoridades russas a tomarem a iniciativa de pôr fim ao conflito com a Ucrânia, contrariando a posição anterior do Estado angolano, baseada na não condenação da invasão de Moscovo.

O repto lançado por João Lourenço no discurso de tomada de posse está, entretanto, a merecer as mais variadas interpretações, havendo quem o considere “diplomaticamente relevante”, uma vez que Luanda nunca condenou a Rússia pela invasão da Ucrânia.

Angola foi um dos 35 países do mundo que se manteve neutro em relação à guerra entre os dois países numa votação na Assembleia Geral das Nações Unidas realizada em Março de 2022.

O jornalista Jorge Eurico admite que tenha havido “razões muito fortes” para João Lourenço tomar partido em relação ao conflito.

“Talvez interesses de índole económico, por parte dos estados que apoiam a Ucrânia, que terão dado alguma garantias ou propostas ao Governo angolano e daí o facto de ter mudado de opinião”, admite Eurico que observa, entretanto, que “muitas vezes a política externa de Angola anda muito ao sabor das conveniências que acabam por não ter serventia para o próprio Estado angolano”.

“Isto não será de bom grado para a Rússia”, alerta aquele analista político quem adverte para a possibilidade de a posição de Angola poder “ beliscar as relações entre Luanda a Moscovo”.

Para o jornalista e investigador Fernando Guelengue, o "volte-face" de João Lourenço representa uma ruptura com a Rússia.

Guelengue diz também que o Presidente angolano tenta mitigar a fragilidade latente do seu consulado “face à quebra da popularidade e à contestação interna e externa do seu governo”.

“Pode ser que venhamos a observar um maior apoio por parte do Ocidente porque há um interesse no sentido de tê-lo nas mãos”, conclui.

O Presidente de Angola defendeu que a Rússia deve tomar a iniciativa de pôr fim ao conflito com a Ucrânia para evitar o escalar do conflito e abrir caminho à reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

“Tendo em conta a necessidade de se evitar o escalar do conflito, consideramos importante que as autoridades russas tomem a iniciativa de pôr fim ao conflito [na Ucrânia], criando assim um melhor ambiente para se negociar uma nova arquitetura de paz para a Europa e abrir caminho à tão almejada e necessária reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, disse João Lourenço no seu discurso de posse, em Luanda.

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