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Analistas políticos cépticos quanto à reunião de emergência da SADC sobre Moçambique


Cimeira da SADC, Harare, Zimbabwe, 17 agosto 2024
Cimeira da SADC, Harare, Zimbabwe, 17 agosto 2024

Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral vista com muita descrença por analistas políticos na região

Analistas políticos moçambicanos dizem não esperar grandes decisões da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) que vai reunir-se de emergência, nesta semana, para analisar a crise pós-eleitoral no país porque esta organização regional está bastante fragilizada, mas acreditam que o Presidente Filipe Nyusi poderá enfrentar um ambiente misto, dado que existem forças que defendem a alternância regular do poder e outras que se opõem a que Maputo tome uma posição conciliatória face a esta crise.

Ao nível da região, Moçambique tem uma posição geoestratégica pelo facto de ser o principal corredor para os países do interior, nomeadamente, Zimbabwe, Malawi, Zâmbia e República Democrática do Congo, e é opinião generalizada que qualquer perturbação ou instabilidade política pode ter um grande impacto também nas suas economias.

Analistas políticos consideram que na reunião, a ser dirigida pelo Presidente zimbabweano, Emmerson Mnangagwa, que felicitou o candidato presidencial da Frelimo, Daniel Chapo, Nyusi vai enfrentar um ambiente misto, sobretudo se todos os países membros estiverem representados e se o encontro tiver como agenda principal a presente situação em Moçambique.

"Ao nível da SADC, existem forças que acreditam na democracia e na alternância regular do poder, como aconteceu no Botswana, no Malawi e na Zâmbia e mesmo na África do Sul, onde o Presidente Cyril Ramaphosa conseguiu ser minimamente visionário e constituiu uma frente ampla de Governo com algumas das principais forças políticas sul-africanas", destaca o analista político Fernando Lima.

Moçambique, por causa da situação que tem vivido em Cabo Delgado e dos posicionamentos críticos da SADC sobre aquela província assolada pelo terrorismo, tem muitas reticências relativamente ao que a organização regional pode decidir sobre o país.

Lima sublinha que países como Angola, Zimbabwe e Tanzânia "poderão posicionar-se ao lado de Moçambique, no sentido de não tomar uma posição conciliatória por parte de Filipe Nyusi, Presidente da Frelimo e da República".

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Para aquele analista político, "está tudo em aberto, mas a SADC, enquanto organização, parte duma posição muito fragilizada, uma vez que não é conhecida a sua posição em relação às eleições de Moçambique", nem sobre a presente crise pós-eleitoral.

A reunião de emergência da SADC tem lugar num contexto em que há uma percepção generalizada de que nos últimos 10 anos a organização perdeu protagonismo político em assuntos da sua própria região e tem sido muito ineficiente em colocar temas sobre democracia na ordem do dia dos países membros.

Para o jornalista Tomás Vieira Mário, isso faz com que a SADC seja uma organização enfraquecida, não apenas devido a atos de xenofobia na África do Sul, mas também à conivência com uma tendência geral de desrespeito aos direitos humanos e às regras democráticas universais.

Ela anota que "há uma espécie de cumplicidade entre os lideres da região, sempre com o tom de que existe um inimigo externo do qual se devem defender e inclusivamente há uma certa paranóia de que o Ocidente quer tirar do poder os movimentos de libertação na região e isso faz a região perder aquela pujança que teve nos tempos da luta contra o apartheid na África do Sul".

Aquele analista político diz não esperar grandes decisões deste grupo de governos sobre a situação política em Moçambique "a não ser aqueles comunicados de apelar à calma e ao reconhecimento das instituições; não espero que possamos ter destes lideres decisões que possam trazer alguma mudança no curso dos acontecimentos no país’".

Por seu turno, o também analista político Manuel Alves considera que a solução para a crise deve ser encontrada internamente porque o problema que Moçambique tem é interno, está muito bem identificado e está relacionado com as eleições.

Entretanto, Filipe Nyusi diz que o Governo está empenhado na busca de soluções para a crise pós-eleitoral, tendo nesse sentido mantido na passada sexta-feira, 8, um encontro de cortesia com o apóstolo Luis Fole, da Igreja Ministério Divina Esperança, aparentemente a mesma do candidato presidencial Venâncio Mondlane, durante o qual "trocamos opiniões sobre a situação do país, e continuaremos de forma inclusiva com outras sensibilidades desta nossa terra amada, a trabalhar para a sua estabilidade e desenvolvimento".

Por outro lado, há quem entenda que a SADC possa deixar "solto" o candidato presidencial Venâncio Mondlane, mas Fernando Lima diz que isso pode não acontecer.

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