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Analistas angolanos falam em "selectividade" ante denúncias de corrupção de figuras do Governo


João Baptista Borges, ministro da Energia e Águas de Angola
João Baptista Borges, ministro da Energia e Águas de Angola

Investigação de televisão portuguesa denuncia negócios do ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges e familiares

Analistas angolanos manifestam dúvidas de que as autoridades levem a cabo qualquer investigação às actividades do ministro da Energia e Água, João Baptista Borges, cujas actividades estarão a ser alvo de um inquérito em Portugal.

Esta reacção surge depois de a emissora televisiva portuguesa TVI ter divulgado na quarta-feira, 6, uma reportagem na qual afirma que o Ministério Público de Portugal abriu um inquérito Borges por suspeitas de branqueamento de capitais.

A reportagem mostra, segundo a TVI, como João Baptista Borges e vários elementos da família se envolveram em negócios ligados ao sector da energia em Angola, que passaram pela banca portuguesa.

O sobrinho do ministro, Ricardo Borges, tem várias empresas e, nos últimos anos, conseguiu muitos contratos de milhões no sector da Energia, em Angola, sempre através de outras empresas.

Num documento a que a TVI teve acesso, vê-se que a chinesa Hong Kong Yongda Holding subcontrata uma empresa, a Diverminds, para apoio técnico em contratos públicos no sector da Energia, em Angola, por quase um milhão de euros.

A empresa é do sobrinho e de um dos filhos do ministro João Baptista Borges.

Silêncio e selectividade

Para o jornalista angolano Ilídio Manuel, o processo de João Baptista Borges é um daqueles que vai passar à margem da justiça angolana.

“Não acredito que a PGR reaja a tempo oportuno”, disse o também analista, afirmando que a procuradoria angolana “deve seguir o modelo Edeltrudes Costa, numa espécie de fuga em frente naquela estratégia de que está investigar”.

Manuel referia-se ao chefe de Gabinete do Presidente João Lourenço, quem recentemente foi também alvo de alegações de ter usado da sua posição para a obtenção de negócios, segundo investigação da mesma televisão, TVI.

Ilídio Manuel entende ainda que a justiça angolana continua a tratar o combate à corrupção de forma selectiva e cita como exemplo as denúncias que envolvem a empresária Isabel dos Santos, de um lado, e Edeltrudes Costa, do outro.

“Para uns actua, para outros não”, conclui Ilídio Manuel.

Quem concorda com a selectividade nos processos relacionados ao combate à corrupção é o jurista Manuel Pinheiro, “um método porque para atingir algum fim é preciso planificar”

Pinheiro afirma no entanto que ainda assim a corrupção em Angola continua em alta.

“Estamos a ver que desde a tomada de posse do novo Executivo, a corrupção continua galopante e em alta, ficou-se apenas pelas boas intenções”, assegura o jurista

A VOA contactou o procurador Alvaro João, porta-voz da PGR, mas sem sucesso.

Longa trajectória

João Baptista Borges tem uma longa experiência do Governo, desde o consulado de José Eduardo dos Santos, mas sempre no sector de Energia.

Depois de ter sido presidente do Conselho de Administração da EDEL E.P., de 2005 a 2008, ele entrou nesse ano para o Executivo como vice-ministro da Energia, cargo que ocupou até 2010, quando passou a ser secretário de Estado da Energia, até 2011.

Em 2012, Borges foi nomeado ministro da Energia e Águas, pasta que assumiu também após a entrada em funções do Presidente João Lourenço.

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