Especialistas angolanos consideram que as sanções europeias e americanas à Rússia terão um impacto directo na economia de Angola devido à dependência tecnológica, financeiras e de know how de algumas empresas angolanas àquele país.
Os economistas Galvão Branco, Estevão Gomes e João Maria Funzi Chimpolo admitem que o funcionamento regular da Barragem hidroeléctrica de Kapanda, a conclusão da construção do satélite angolano, AngoSat-2, a par dos níveis de produção dos diamantes e a área da defesa, podem ser afectados pelas sanções à Rússia.
O economista Estevão Gomes refuta a tese segundo a qual os impactos económicos serão residuais devido aos poucos investimentos russos em Angola e afirma que “a Rússia tem uma grande influência sobre a nossa economia”.
“Pode afectar no campo militar, pode haver um retrocesso na data de entrega do satélite angolano que é até Abril deste ano, a maior parte do equipamento para Capanda vem da Rússia que suspendeu grande parte dos voos para o estrangeiro”, diz.
João Maria Chimpolo também entende que “vai haver um impacto negativo na nossa economia porque nós somos um país não produtivo e dependente economicamente”.
O economista Galvão Branco concorda com o impacto negativo das sanções contra a Rússia sobre a economia de Angola, mas admite que a assistência aos “sectores sensíveis” como é o caso da defesa e do satélite “estão salvaguardados ao nível bilateral ”.
“Há sempre reflexos decorrentes desta situação para a economia de Angola”, afirma o economista para quem “um conflito em si traz sempre algum tipo de constrangimento à economia de qualquer país”.
Informações disponíveis no site do Governo angolano referem que o intercâmbio comercial entre Angola e Rússia assenta particularmente nos sectores dos diamantes, energia, telecomunicações e banca.
A Rússia está presente com a empresa Alrosa, parceira da Endiama na Sociedade Mineira de Catoca, na Lunda Sul, onde se encontra a quarta maior mina de diamante do mundo a céu aberto.
Catoca é responsável por mais de 75 por cento dos 9,4 milhões de quilates de diamantes explorados no país.
Quanto às telecomunicações, o Governo diz que os russos estão a trabalhar com as autoridades angolanas para que Angola tenha em operação, até Abril deste ano, o satélite Angosat-2, uma vez que o Angosat1, lançado a 26 de Dezembro de 2017, apresentou problemas técnicos e encontra-se perdido no espaço.
O lançamento do AngoSat-1 pelo foguete Zenit ocorreu no dia 26 de Dezembro de 2017 e o seu seguro esteve avaliado em 121 milhões de dólares, cabendo às empresas russas cobrir eventuais defeitos.
A Rússia tem também uma presença no sector eléctrico, por ter participado no fornecimento dos componentes mecânicos e hidromecânicos, assim como as quatro turbinas do primeiro aproveitamento hidrelétrico construído no pós-independência: barragem de Capanda, na província de Malanje, em funcionamento desde 2005, com uma potência de 520 MW.
A firma russa Technopromexport (TPE) foi a responsável pela instalação dos equipamentos, nomeadamente, as quatro turbinas, enquanto a projectista sub-contratada pela última, a Hidro Energo Marsh Service, que assegura a manutenção tecnica e eléctrica dos geradores e turbinas de Kapanda com 50 técnicos, até 2019, também é de origem russa.
Além de Capanda, os russos também construíram, através da Al-Rosa Venestroy, a barragem de Chicapa, na Lunda Sul, com capacidade de 16 megawatts, que fornece energia à Sociedade Mineira de Catoca e à cidade de Saurimo.
Na banca, a Rússia está presente desde 2006 com o Banco VTB África que escolheu como foco de sua actuação no mercado angolano o financiamento de projectos de grande dimensão no país e no continente africano.
Na altura, arrancou com um capital inicial de 10 milhões de dólares, dos quais 66 por cento pertenciam ao Banco de Comércio Externo da Rússia e os restantes 34 assumidos por empresários angolanos.