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Análise: Irá o gás gerar empregos ou frustrar os jovens de Cabo Delgado? 


Jovens do distrito de Palma, Cabo Delgado, Moçambique
Jovens do distrito de Palma, Cabo Delgado, Moçambique

"Há expectativas irrealistas que estão a ser criadas", diz o pesquisador João Feijó

Analistas dizem que continua a haver um enfoque irrealista quanto às potencialidades do sector do gás natural liquefeito gerar empregos, o que poderá frustrar as expectativas sobretudo dos jovens de Cabo Delgado.

Uma conferência virtual sobre "Como está Cabo Delgado; que estratégias para o desenvolvimento Integrado do norte", promovida pelo Observatório do Meio Rural, tem lugar esta quarta-feira, 10.

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A conferência vai ocorrer numa altura em que uma equipa de consultores, contratada pelo Governo, está a trabalhar naquilo que poderá vir a ser o plano estratégico para o desenvolvimento daquela região.

"O que se pretende é contribuir para o debate em torno desse plano estratégico, porque sentimos que há expectativas irrealistas que estão a ser criadas, com base na ideia do conteúdo local", afirmou o pesquisador e coordenador do Conselho Técnico do Observatório do Meio Rural, João Feijó.

Ele avançou que são expectativas que "depois serão frustradas e que farão parte do problema e não parte da solução".

A ideia é debater os diferentes factores económicos que devem ser considerados, sempre na perspectiva de diversificação do tecido económico, nomeadamente, o desenvolvimento da agricultura, pesca e as oportunidades de comércio existentes e, sobretudo, avaliar até que ponto existem espaços para o exercício da cidadania.

Para Feijó, é preciso constituirem-se grupos que possam defender os seus interesses e a integração sócio-económica da população e sobretudo para a capacitação dos líderes comunitários, "para que depois possam servir de interlocutores na realização da paz e integração futura de jovens insurgentes na sociedade, quando a guerra terminar".

Necessidade da diversificação

O Governo criou, recentemente, a Agência para o Desenvolvimento Integrado do Norte-ADIN, uma iniciativa que para João Feijó, não valoriza, efectivamente, a necessidade da diversificação do tecido económico "e não aposta em outros sectores que podem criar muito mais empregos".

A questão relativa ao conteúdo local tem sido largamente discutida, havendo opiniões de que a mesma tem sido negligenciada, embora as autoridades afirmem que este é um aspecto que está previsto em todo e qualquer megaprojecto.

O Pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP) Borges Nhamire, diz haver expectativas exageradas em torno do conteúdo local, sendo por isso que este assunto sempre foi problemático, "porque desde os últimos 10 anos, todos os grandes projectos, têm tido sempre a comparticipação da elite política do Partido no poder".

"Eu penso que está a haver um optimismo exagerado do Governo relativamente ao projecto de gás natural liquefeito. É necessário olhar para as previsões com muita precaução porque podem existir factores adversos, para além do facto de que o que está previsto pode não ter um grande impacto nas populações", afirmou o sociólogo Lucas Ubisse.

Por seu turno, o economista João Mosca aborda a questão de que, grosso modo, as estratégias de desenvolvimento do país não têm em conta a necessidade da diversificação do tecido económico.

"O mais preocupante é que o crescimento económico previsto será apenas com base num único produto, basicamente o gás; toda a economia está à volta do gás, e é uma economia com uma exploração off-shore, em que quase tudo é feito no mar, pelo que os efeitos reais no terreno sobre o tecido económico moçambicano e sobre a população faz-se sentir de forma muito baixa", anotou aquele economista.

Refira-se que a equipa de consultores contratada pelo Governo fez, o mês passado, a apresentação de diferentes pilares de desenvolvimento para a zona norte de Moçambique, e particularmente para a província de Cabo Delgado, que está a ser afectada por ataques de insurgentes armados.

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