A polícia angolana impediu, nesta Sexta-feira, 27, a deposição de flores em homenagem às vítimas do 27 de Maio de 1977, num cemitério de Luanda.
Falando no "Angola Fala Só", da VOA, Alberto Kitari, revelou que horas antes do programa, ele e outros sobreviventes e familiares de pessoas mortas tinham encontrado polícias “fora e dentro do cemitério”.
A polícia, disse, tinha agredido um jovem e usado da força para impedir o acesso ao cemitério.
Para Kitari, que é secretário para assuntos sociais da associação, isto revela que o MPLA continua a não querer reconciliar-se com aqueles que foram vítimas das purgas, que se seguiram ao 27 de Maio e que vitimaram dezenas de milhar de vitimas.
Kitari, ex oficial das Forças Armadas Angolanas, esteve detido num campo no Moxico, entre 1977 e 1980
Ele disse que as estimativas do número de vitimas ascendem a 80 mil, mas o próprio MPLA disse que “só” morreram 30 mil pessoas.
Em 2013, o bureau político do MPLA disse em comunicado que “um elevado grau de imaturidade de alguns dos seus militantes e a incipiente organização e funcionamento das instituições e excessos de zelo dos seus principais agentes contribuíram decisivamente naquela altura para os factos ocorridos.”
Mas Kitari disse que desde então o MPLA nada mais fez para a reconciliação, pelo que “isso não foi um pedido de desculpas."
A associação já escreveu várias vezes ao presidente e ao partido no poder a sugerir um debate como primeiro passo de reconciliação. Tal não resultou.
O ex-militar disse que actualmente "há uma ignorância total sobre os acontecimentos" e que "a juventude angolana tem o direito de saber o que se passou no 27 de Maio de 1977”.
Kitary explicou que, contrariamente ao que diz a história oficial, não houve uma tentativa de golpe de estado por parte dos seguidores de Nito Alves.
Ele recordou que recordou que Nito Alves e outros dirigentes mortos na altura “eram membros do MPLA e do seu comité central” e o que havia era uma divisão dentro do partido.
O ex-militar disse que os horrores do que se passou no campo do Moxico, onde esteve detido, são difíceis de imaginar. O comandante do campo com o nome de guerra de “Sangue” fez jus a esse nome pelo modo sanguinário como manteve o campo onde muitos morreram.
Ironicamente Kati revelou que “Sangue” tinha sido um elemento da UNITA que se juntou ao MPLA, após a independência, em 1975.
Interrogado por um ouvinte sobre como tinha sido morto o comandante “Balakof”, Kitari disse que compete ao MPLA esclarecer isso.
Mesmo o que aconteceu ao Nito Alves é algo que o MPLA deve esclarecer, porque o mesmo foi preso no norte do pais e levado para Luanda, e nunca mais se soube dele.
Ele denunciou que os familiares de militares que foram mortos por ordens do governo continuam sem receber qualquer ajuda ou pensão.
Um ouvinte disse que um familiar seu tinha desaparecido e se havia possibilidades de saber o que lhe aconteceu.
Sem hesitar, Kidari disse que aqueles que desapareceram estão certamente mortos.
Contudo, exortou as pessoas com familiares nessa situação a contactarem a sua organização para verificar se alguém sabe o que aconteceu.
Sobre a situação poltica actual em Angola, Kidari disse que convencido que o MPLA quer “inviabilizar o processo eleitoral” do próximo ano.