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Adquirir petróleo da Rússia pode ser má opção para Moçambique, dizem analistas 


Filas em bomba de gasolina, na capital moçambicana, Maputo. Moçambique, Janeiro 2017
Filas em bomba de gasolina, na capital moçambicana, Maputo. Moçambique, Janeiro 2017

Especialistas defendem que Maputo deve repensar diversas vertentes antes de decidir comprar combustível russo, que Moscovo promete ser a preço baixo, sobretudo num contexto em que o ocidente e as instituições de Bretton Woods parecem estar mais inclinados a apoiar Moçambique no seu processo de desenvolvimento.

Eles sugerem que o barato pode ser mais caro.

A Embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Linda Thomas, advertiu os países africanos a não comprarem combustível russo, sob pena de sofrerem sanções.

Alguns especialistas dizem que Moçambique pode contornar esta situação, agindo em coordenação com a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), porque individualmente vai ser impossível evitar as sanções.

Entretanto, o investigador do Instituto moçambicano de Estudos Económicos e Sociais (IESE), Yasir Ibraimo, recorda que eventuais sanções dos Estados Unidos e da União Europeia podem ter impacto severo na economia moçambicana.

Yasir citou o caso do Zimbabwe, que há anos está com sanções do ocidente, por causa da expulsão de farmeiros brancos, na altura. "Isso teve um impacto severo na economia zimbabwena, e se a economia moçambicana experimentasse este tipo de sanções, isso teria um grande impacto", realça.

Neste momento, diz Yassir, Moçambique está fortemente dependente da ajuda externa, sublinhando que o país é soberano, "mas é preciso ver que nem todos os moçambicanos estão a favor da forma como Moçambique se posicionou em relação ao conflito russo-ucraniano, pelo que se o país como um todo ser alvo de sanções, todos os moçambicanos estariam também a ser afectados por essas sanções".

Por seu turno, a economista Leila Constantino, considera que a Rússia está a aliciar Moçambique com preços baixos de combustíveis e defende que Maputo deve fazer uma análise custo/benefício não só da vertente financeira, mas de muitas outras, quando se fala de cooperação com outros países, sobretudo aqueles que apoiam o orçamento de Estado e diferentes projectos de desenvolvimento.

Constantino defende que, estrategicamente e tendo em conta o facto de os principais parceiros de cooperação terem retomado o seu apoio ao Orçamento de Estado e a projectos que estão sendo desenvolvidos em Moçambique, "é importante considerar esta questão de comprar combustível russo, porque eu não acho assertivo considerar esta vertente, por ser combustível mais barato; existem outros aspectos que mais beneficiam em relação a este aspecto".

Já o economista João Mosca considera que Moçambique é muito mais dependente dos países do ocidente e de alguns países árabes ou de outras regiões, pelo que existe uma situação de equilíbrio em termos de o país poder optar por uma posição em prejuízo daquilo que são os seus principais parceiros, e também é verdade que as ameaças dos Estados Unidos podem ser decretadas conforme os países.

Mosca refere que no caso de Moçambique existem alguns interesses importantes económicos internacionais, não só a questão do gás, como também de outros recursos naturais, e sobretudo a posição geoestratégica moçambicana em termos de oceano Indico.

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