O actual e o anterior primeiro-ministros de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada e Jorge Bom Jesus, respectivamente, entraram numa troca de acusações após a divulgação do resultado da investigação dos acontecimentos de 25 de Novembro, que, na altura, o Governo classificou de tentativa de golpe de Estado.
O Ministério Público (MP) concluiu que o ex-primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, quando ainda estava no poder, sabia da preparação do golpe de Estado e que a tentativa de inversão da ordem constitucional foi motivada pelo negócio da venda de um terreno do Estado atribuído aos elementos do extinto Batalhão Búfalo da África do Sul, liderados por Arlécio Costa, assassinado pelos militares.
“Jorge Bom Jesus deveria responder por alta traição à pátria”, disse Patrice Trovoada acusando o antigo primeiro-ministro de não ter feito nada para travar a operação e ainda ter vindo ao público falar em "inventona".
Bom Jesus rejeita as acusações de Patrice Trovoada e desvaloriza a investigação do MP, que teve o apoio da sua congénere portuguesa.
“Vou apresentar uma queixa-crime contra o Estado são-tomense e contra o senhor Patrice Trovoada por difamação”, revelou o ex-Primeiro-ministro.
Quanto à conclusão do Ministério público sobre a motivação da tentativa de golpe de Estado, ou seja, o terreno de 310 hectares retirado aos elementos do antigo Batalhão Búfalo e entregue ao então presidente do Parlamento, Delfim Neves que posteriormente procedeu a sua venda a um grupo alemão por cerca de um milhão e 350 mil euros, Patrice Trovoada também não poupou criticas ao seu antecessor.
“Tudo isso teve a assinatura de Jorge Bom Jesus e mais uma vez o dinheiro, a ganância e a corrupção serviram para manchar o nome do país”, afirmou Trovoada a quem Jorge Bom Jesus também acusa de prática de vários actos de corrupção com bens públicos.
“A que preço e como foram alienados por Patrice Trovoada os edifícios do Supremo Tribunal e da Agência de Regulação”?, pergunta Jorge Bom Jesus citando outros casos envolvendo o nome de Trovoada.
O jurista e analista político Gelson Baía leu o relatório do MP e diz não ter dúvidas sobre a preparação do golpe de Estado.
“Houve sem dúvida actos preparatórios e executórios com o objectivo de alteração violenta da ordem constitucional em são Tomé e Príncipe”, conclui Baía.
O MP acusou nove militares e um civil de envolvimento no assalto ao quartel das Forças Armadas, a 25 de Novembro, sete dos quais acusados do crime de homicídio qualificado na forma tentada.
O ex-presidente do Parlamento Delfim Neves foi ilibado,, depois de ter sido acusado de ser o orquestrador da alegada tentativa de golpe de Estado.
O MP refere que Arlécio Costa teria prometido entre 50 mil e 200 mil euros aos arguidos e que os autores do ataque seguiam “as ordens” daquele ex-combatente do antigo Batalhão Búfalo, da África do Sul, que já tinha estado envolvido em tentativas de golpe de Estado em 2003 e outra em 2009.
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