Nestas eleições presidenciais, não há outro Estado mais disputado do que o Ohio, no centro-oeste americano. Um Estado que o presidente Bush ganhou no ano 200 por apenas três pontos percentuais e que o democrata John Kerry poderá reivindicar para si nas eleições de Novembro próximo.
Ohio é um Estado dominado por uma grande produção agrícola, mas é o seu sector industrial em crise que está a dominar a campanha presidencial deste ano. Nos últimos anos, Ohio era a base para dezenas de milhar de empregos no sector de manufactura, mas ultimamente esses postos de trabalho têm vindo a ser transferidos para o estrangeiro. O fabricante de peças para televisores, a Techneglas, que empregava mil e 200 trabalhadores na cidade de Columbus é uma das últimas empresas a fechar as suas portas no Estado do Ohio. O sindicalista William Geisler afirma que o impacto dos despedimentos tem tido um efeito devastador junto das famílias afectadas.
”Estamos a falar de pessoas que perderam as suas casas, que perderam os seus carros. E estão a tentar fazer o seu melhor, a agarrar-se a qualquer coisa para subsistirem. Mas, aqui no Estado do Ohio é verdadeiramente difícil porque o mercado de trabalho está mau.”
A taxa de desemprego no Ohio saltou de seis para seis virgula três por cento em Agosto, o que correspondeu a 12 mil postos de trabalho perdidos. E mesmo para aqueles que trabalham persiste uma sensação de incerteza. Em Akron, no Ohio, Davis Oden, um apoiante de John Kerry, queixa-se de empregos com salários baixos e benefícios reduzidos, como por exemplo sem direito a seguro de saúde.
”Há pessoas agora a trabalhar que estão a ganhar menos do que ganhavam em 1975. Chama-se a isso progresso?”
O professor Herb Asher, da Universidade do Estado do Ohio, afirma que as preocupações relativas à economia estarão na mente dos eleitores quando estes forem votar em Novembro.
”O nosso Estado está a atravessar uma enorme transformação económica de uma economia de manufactura para uma outra coisa diferente. Uma coisa diferente que não é muito clara.”
O professor Asher afirma que o apelo de John Kerry para que se mantenham nos EUA os postos de trabalho mais bem pagos tem uma forte ressonância entre os habitantes do Estado do Ohio.
Mas o panorama de desemprego é complexo. Enquanto alguns dos postos de trabalho foram transferidos para o estrangeiro, o contrário está também a acontecer. O fabricante de automóveis Honda está a celebrar uma presença de 25 anos de produção em território americano. Esta empresa investiu seis mil milhões de dólares no Ohio e emprega 16 mil pessoas naquele Estado. Marian Donohoe trabalha para a Honda.
”Nós trabalhamos para uma companhia que nos trata bem. Nunca deixámos de trabalhar. Se não faltarmos ao trabalho e não chegarmos atrasados, recebemos um bónus mensal.”
Donohoe escusou-se a revelar em quem tenciona votar nestas presidenciais, mas mostra-se céptica quanto aos esforços para evitar a fuga de postos de trabalho para o estrangeiro.
Para alguns, a segurança económica está directamente ligada à segurança nacional. David Fannon, o dono de uma tipografia, afirma que, depois dos ataques terroristas do 11 de Setembro, a América necessita de um líder forte e resoluto e cita, a propósito, GW Bush.
”Nós sabemos qual é a política de Bush e o que ele quer fazer.”
As sondagens tem mostrado consistentemente Bush à frente de Kerry no Ohio mas, Brandon Cull, um dos estrategas de Kerry afirma que a distância entre os dois candidatos é mais pequena do que as sondagens dão a enetender.
”John Kerry está a passar mais tempo no Ohio porque ele pensa que se a campanha fizer um grande esforço até 2 de Novembro (o que vamos fazer) iremos ganhar as eleições”.
Mas, alguns democratas estão preocupados. Elizabeth Lessner, proprietária de um bar, afirma que uma economia fraca e o persistente banho de sangue a que se assiste no Iraque deveria ter-se traduzido já numa substancial vantagem para John Kerry no Ohio.
”Penso que as pessoas estão mais no campo de Kerry e mais no campo anti-Bush. As pessoas estão chocadas com o que se passa, mas não sei se as pessoas estão de facto a apoiar Kerry”.
Desde o século 19 que apenas dois candidatos conseguiram ser eleitos presidente sem terem ganho o Estado de Ohio. Por isso, ambos os candidatos sabem da importância de vencer naquele Estado se quiserem conquistar a Casa Branca.