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A mesa com a Global Witness - 2004-06-01


A rotura entre o MPLA e instituições que tomava como hostis pode estar a acabar. Nos últimos meses dirigentes do MPLA e do Governo sentaram-se a mesma mesa com representantes da Open Society, Global Witness instituições que nos anos mais recentes questionaram repetidas vezes a gestão de fundos públicos em Angola. Aproximação a outros organismos que também têm uma imagem péssima do estado angolano não está posta de parte. As mudanças não se esgotam aqui. Mais recentemente o MPLA deu uma outra indicação ao promover um workshop sobre família , sociedade e as organizações não governamentais.

Debates desta natureza sempre constaram da agenda do MPLA, mas nunca fizeram parte da sua rotina. Esta inflexão é de alguma forma, reflexo dos resultados do congresso de Dezembro. Júlio Martins, uma figura que emergiu no final do ano, e que responde hoje pelos assuntos políticos e eleitorais não vê nada de anormal na actuação do seu partido. Ele próprio tomou parte recentemente num fórum em Lisboa promovido pela Open Society e pela Fundação Mário Soares instituições com o MPLA tem relações cinzentas.

“ Não creio que haja diferenças substancias. O grande propósito é que o partido precisa de apresentar a sua mensagem, a sua posição em qualquer fórum e espaço de intervenção política onde se debatam assuntos de interesse para o país. Não importa a matriz organizativa nem de participantes que estes fóruns possam ter. Importa sobretudo termos a oportunidade de apresentarmos os nossos pontos de vista”.

Júlio Martins poderá apresentar a nova postura do MPLA como parte da sua génese, mas para analistas como Victor Aleixo, o partido no poder está apenas no início de uma caminhada que se impunha.

“O próprio momento exige uma outra postura do MPLA, uma postura mais aberta , mais dialogante, em função da própria realidade que se vive. Não podemos dizer que já esteja devidamente arejado, afinal de contas às vezes este diálogo ainda não como se deseja, mas de toda forma há indícios de que caminha para lá”.

A metamorfose agora registada no MPLA parece perseguir o principio de que é mais fácil convencer os adversários conversando com eles , do que recorrer a inflamados editoriais, regra geral apresentados pela imprensa estatal, ou pura e simplesmente optar pela política de cadeira vazia. Seja como for diz Júlio Martins as intervenções do MPLA serão sempre ditadas pelos seus interesses.

“Não se trata propriamente de repor a presença em determinados fóruns.. Devemos entender sempre que a participação de representantes do partido em eventos dessa natureza, deve obedecer a uma estratégia própria do partido e não apenas porque ocorrem estes fóruns. É em função do interesse, da temática, da oportunidade, e não acreditamos que seja apenas o MPLA, que se define a participação”.

A definição de interesses do MPLA levará a debate questões sobre como lidar com a imprensa privada. Uma observação feita recentemente em Washington pelo Presidente José Eduardo dos Santos criou algum mal estar. O verdadeiro teste ao MPLA virá por altura dos grandes debates eleitorais. (LC)

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