As tentativas do Bashorum Afonja para ocupar o trono do alafim, constituem prova suficiente para Ade Ajayi e outros que defendem que a crise política do Oyo, nos séculos antes da ocupação colonial, se baseava em lacunas institucionais, internas do sistema de governo do estado Yoruba, e não em causas externas, como seja o impacto do comercio de escravos com os europeus na costa, como argumentam Akingjobin e outros: Tomé Mbuia João: A África no Século Dezanove ao Encontro da Europa.
Na ultima conversa dizíamos que Ajayi, o historiador de Ibadan, centrava a sua tese no militarismo como a instituição que mais serviu as classes mais abastadas que finalmente tornaram o estado Yoruba no teatro das suas ambições pelo poder, e que as instituições políticas existentes nunca mais chegaram a amenizar as arestas da sociedade Yoruba na hora da saturação política em confrontação entre o alafim e as famílias militarizadas, ambiciosas agora de lhe ocupar o trono.
Havia também, sem esquecer, a rebelião latente das províncias contra a autoridade central, situação que se agravou na fronteira norte dominada pelo comercio não apenas de escravos como na zona costeira mas ainda na troca dos produtos da terra pelos cavalos que se produziam nas cidades hausas de Borgu e Nupe, sobretudo nesta ultima, que o Oyo sempre foi buscar como matéria prima do seu poderio militar.
No auge da crise política o trono do Oyo chegou a ser por vezes vago, por outras reivindicado por mais candidatos do que poderia acomodar, comandantes militares quase todos eles Bashoruns ou Areona Kakanfos. Muitas províncias proclamaram-se independentes, e o Dahomé – também - a pérola mais preciosa que tinha sido das conquistas dos alafins no século dezoito.
O colapso do Oyo registou o seu auge em vários episódios que a história gravou mais notoriamente o que assinalou as tentativas do Bashorum Afonja de Illorin, cidade yoruba da fronteira norte, vizinha da metrópole comercial hausa de Nupe que tinha sido um ponto de convergência não apenas comercial mas ainda cultural entre as duas sociedades - yoruba ao sul, e hausas, ao norte - desde sempre, mais ainda nesta hora de saturação política no Oyo, circunstancia esta habilmente aproveitada pelo protagonista desta conversa, Bashorum Afonja, no inicio simples escravo, agora a fazer vingar as suas ambições para cingir a coroa do alafim, como tantos outros da sua condição que tinham tentado.
Afonja aproveitou-se primeiro da prática do alafim de delegar a autoridade nas províncias periféricas a candidatos de condição humilde, muitas vezes escravos colando-lhes o título de Areona Kakanfo, comandante militar das tropas de el-rei nas províncias das suas respectivas jurisdições. Muitos beneficiados desta patente militar usavam-na como trampolim para o posto imediato de Bashoum, primeiro comandante, sendo o segundo o Areona Kakanfo dos exércitos de sua majestade o alafim, promoção que conferia autoridade não apenas militar mas ainda colocava o titular na categoria social dos famosos Oyo Mesi, de que ainda nos recordamos, membros de oficio do conselho real.
Areona Kakanfo, Bashorum, Oyo Mesi, constituíram sempre uma tentação de ambição permanente ao trono do alafim, restando apenas a disposição, a vontade de o fazer, e a certeza da vitória, o que não faltava a muitos, como não faltou ao Bashorum Afonja da nossa história.
Uma vez ali, no Ilorin Afonja pensou angariar a amizade de um pregador hausa fulani de Nupe al-Salih-Alimi, o nome deste sacerdote islâmico portador de um estandarte missionário e incumbido por Uthman Dan Fodio para avançar em jihad contra as cidades yorubas mais para o sul.
Dan Fodio, Bin Fudi um nome e uma evocação. O grande chefe jihadista fulani criador do famoso Califato do Socoto, ponto de convergência religiosa islâmica hausa desde a ultima parte do século dezoito na altura mesma do auge da crise política no Oyo.
Afonsa, elevado a Areona Kakanfo tenta valer-se do zelo e da aliança missionaria de al-Alimi, discípulo de Dan Fodio, para a conquista do trono do alafim. Não houve simbiose. Saiu-lhe mal o tiro. Os pormenores não cabem aqui. Awole, o alafim vitima potencial da intemperança política de Afonsa, submerso agora nas intrigas de al-Sali Alimi, chegou a acreditar que Afonja iria tomar o veneno ritual, esperado por todos em casos de fracassos espectaculares como este para se suicidar. Não foi preciso. Afonja foi assassinado por Sali Alimi, que lhe ocupou o lugar na confusão da luta para a conquista do estado yoruba. O Ilorin nunca mais voltou a ser província do Oyo para se integrar para sempre na confederação islâmica hausa. Mais uma tragédia, neste parágrafo de ternura histórica se me permitem a expressão e de propósitos a contratempo.
Por último bebeu o veneno o próprio alafim, Awole, forçado desta feita pelo Bashorum Abiodum, que entretanto saia vitorioso onde Afonsa fracassara. Esta história continua nesta mesma veia, repleta de episódios sempre novos e surpreendentes.
Razão tem Ade Ajayi em atribuir a crise política do Oyo antes da conquista colonial, a falhas institucionais internas do sistema de governo do estado yoruba, sem rejeitar por inteiro o ângulo de Akingjobin, quanto ao impacto na sociedade yoruba do comércio de escravos com os europeus na costa. O debate continua. Quanto a nós vamos abrir um novo capitulo da história da África Ocidental algumas páginas mais à frente. O Benim, vizinho do Oyo na fronteira leste. A nossa próxima paragem. Voltaremos.