A polémica sobre a proibição de entrada no país de organismos geneticamente modificados esta aí para durar, ao que tudo indica, dada a ambiguidade com que o executivo sustenta a decisão.
Em declarações à Voz da América, o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Gilberto Buta Lutucuta, pretendeu esclarecer que, em relação ao assunto, foi apenas decidida a interdição de entrada de grãos e não dos transgéncios como tal.
A justificação é de que países da SADC e mesmo da Europa tem vindo a rejeitar a entrada destes produtos nos seus territórios, denotando, em relação a região austral, uma certa articulação com a Zâmbia e o Zimbabwe, países que já tomaram posições idênticas.
“Há outra maneira de se ultrapassar a situação que é mandarem para aqui os cereais já moídos. Esta é uma proposta que nós fizemos, ou então que o milho venha para cá, outros cereais venham para cá e nós moemos aqui no país”.
Ressalta neste esclarecimento do ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural uma certa ambiguidade, uma vez que a moagem é um processo físico-mecânico que não altera as qualidades ou a composição química do produto moído.
Assim, fica sem se saber o que realmente motivou a posição do executivo angolano que proíbe a entrada de grãos geneticamente modificados, mas é permissível ao consumo dos seus derivados.
“Até aqui ninguém garante que os organismos geneticamente modificados não possam realmente causar preocupação para o futuro das nossas populações ou até dos próprios animais”. Manifestou-se receoso Gilberto Lutucuta. Mais compreensível, entretanto, é a posição de um alto funcionário do Governo que admitiu ter isso a ver com o facto de, algum destes grãos, sobretudo milho, estarem a ser utilizados no cultivo, impondo-se a necessidade de se preservarem as culturas locais de produtos naturais.
A polémica já ultrapassou as fronteiras de Angola e importantes meios de comunicação como o influente “The Wall Street Journal” de elevada circulação nos Estados Unidos da América, que garante o fornecimento de três quartos da ajuda humanitária ao pais, dedicaram espaços a esta polémica.
O The Wall Street Journal escrevia há uma semana um artigo com o título “Let them eat cake”- “deixem eles comerem bolos”-, em português-, deixando implícito o fim de qualquer apoio humanitário americano ao pais. O articulista considera que a polemica dos transgénicos em países desenvolvidos levanta problemas de mercado, como é o que deverá estar a acontecer na relação entre a América e a Europa, mas não se compreende que países subdesenvolvidos como Angola, com mais de um milhão de pessoas a depender da caridade internacional, e sem alternativas imponhas restrições desta natureza, mesmo quando não tenham testado a qualidade destes produtos.
Por outro lado, os recursos técnicos da engenharia genética também são empregues na produção de frutas e criação de animais que Angola muito importa de mercados externos, nunca evocando cautelas com a saúde da população.
Internamente, o Projecto Catoca, auto-suficiente em termos de cereais e carnes, já utiliza há bastante tempo as técnicas genéticas para o apuramento da raça da sua fauna suína, como pode apurar a Voz da América durante uma visita ao local.