Representantes de países Sul-Americanos e Africanos estarão reunidos, pela segunda vez, desde 2006, no encontro que será realizado, no fim deste mês, na Ilha Margarita, no território venezuelano.
A Cúpula América do Sul - África reunirá mais de 60 governantes, além de outros representantes de países dos dois continentes. Na oportunidade, serão discutidos temas ligados à aproximação estratégica entre a União Africana e a União Sul-Americana, a UNASUL, o combate à fome e à pobreza, a crise energética, as turbulências financeiras, além de alternativas que possam garantir a paz e recursos necessários para o desenvolvimento dos povos das duas regiões.
A primeira Cúpula da ASA, sigla que define a junção dos dois continentes, foi realizada em 2006, em Abuja, na Nigéria. Agora, voltam a dividir a mesma mesa de debates líderes dos dois continentes que ocupam 32% da superfície terrestre e contam com uma população superior a 1 bilhão de habitantes.
O anfitrião do evento, o presidente venezuelano Hugo Chávez garante que a Cúpula terá resultados concretos e não, simplesmente, uma declaração final que ficará só no papel. Do lado brasileiro “a expectativa é a mesma”, garante o embaixador Gilberto Moura, director do Departamento de Mecanismos Regionais do Ministério das Relações Exteriores. Segundo ele, os oito grupos sectoriais de cooperação no âmbito da ASA, criados a partir da primeira cúpula na Nigéria, têm planos de cooperação prontos para serem oficializados no encontro.
“Existe um diálogo político que será traduzido pela declaração da Ilha Margarita, que está sendo trabalhada há algum tempo na qual os países expressam temas da agenda global de interesse mútuo, mas o encontro tem também uma vertente da cooperação propriamente dita. Realmente, nós esperamos que a Cúpula não fique só na retórica, mas que consolide cada vez mais os mecanismos de bi-cooperação,” afirma.
O embaixador brasileiro avalia como previsível e normal o fato de a estrutura de cooperação entre os dois continentes sair do papel só agora, quase três anos depois do primeiro encontro. Para ele, a lentidão que marca o processo é comum nas relações internacionais deste porte. Para Gilberto Moura, o adiamento da Cúpula, do ano passado para este ano, também não pode ser observado como factor que contribuiu para maior morosidade na colocação em prática dos planos de cooperação.
“Em todos os mecanismos regionais, naturalmente, os processos são um pouco lento, porque envolve um número muito elevado de países. Mas, pelo menos, uma coisa é certa, na reunião de 2008, em Brasília, foi definida a estrutura da ASA, que é muito bem consolidada e flexível. A fase inicial de implementação é mais morosa, mas todos os grupos sectoriais já se reuniram e fizeram planos de acção. Agora, vamos entrar para aquela fase de consolidação,” explica.
O embaixador brasileiro lembra, ainda, que alguns passos no sentido da cooperação entre os dois continentes já foram dados, ainda que de forma mais isolada. “No Brasil já fizemos um curso de capacitação para negociações internacionais. Vamos agora lançar um catálogo de obras de referência entre as duas regiões. O Brasil ofereceu também a sua experiência com o programa Bolsa Família”.
Gilberto Moura faz questão de pontuar que a definição em si de uma estrutura que vai nortear a cooperação na ASA já tem contribuído para o aumento das relações bilaterais, entre países da América do Sul e da África. A partir das reuniões dos grupos de trabalhos sectoriais, no Brasil, muitos países sul-americanos começaram a ser aproximar mais dos africanos.
“A ASA não deixa de ser um complemento as acções bilaterais e isso é verdade para o Brasil e para outros países. O Brasil tem mais de 30 embaixadas na África, o continente tem prioridade na política externa do país e, mesmo assim, nós temos a ASA como esse mecanismo que complementa. Muitas acções que estão sendo ventiladas na ASA são, muitas vezes, complementares às que estão sendo desenvolvidas no âmbito bilateral”, destaca.
Para o embaixador, a Cúpula só vem solidificar, ainda mais, as relações comerciais na região. No caso brasileiro, as missões para o continente foram triplicadas e é cada vez mais rotineira a presença de um representante de país africano visitando a capital Brasília, sem falar no grande número de vezes que o presidente Lula já se deslocou para a África. Aproximação que não tem acontecido só do lado brasileiro.