Com a indústria do turismo a espalhar-se pelas ilhas de Cabo Verde, o país enfrenta o problema de como preservar as suas tradições e cultura enquanto maximiza o potencial das suas espectaculares belezas naturais.
O guia João Monteiro caminha por entre as muralhas de um forte do século 16, numa colina sobranceira a Cidade Velha, na costa sul da ilha de Santiago. A impressionante estrutura de pedra, explica, foi recentemente reconstruída com apoio financeiro do governo de Espanha, na esperança de trazer mais turistas a cidade.
A Cidade Velha, fundada pelos portugueses em 1462, é o mais antigo povoado europeu nos trópicos. Mas desde então o forte, pacientemente reconstruído pedra a pedra por arqueólogos espanhóis como a ajuda de locais, recebeu poucos visitantes. Monteiro disse que o turismo em Santiago não está a crescer ao mesmo nível de outras ilhas cabo-verdianas.
Mas Santiago, a maior ilha do arquipélago de Cabo Verde e onde se encontra a Cidade da Praia, a capital, ainda não possui os grandes hotéis existentes nas Ilhas do Sal e da Boavista, que atraem cada vez mais turistas europeus. Abel Sanches, um residente da Cidade Velha, dono de um pequeno hotel, uma das poucas opções de alojamento na histórica cidade, diz que um novo foco de desenvolvimento do turismo seria benéfico para a economia local.
Mas esse modelo de desenvolvimento turístico não convence alguns, como por exemplo a alemã Sibylle Schelman, proprietária de um pequeno restaurante a beira-mar na localidade da Calheta, na costa nordeste da ilha de Santiago.
Schelman disse ter ido a Cabo Verde pela primeira vez depois de ter visto um espectáculo da cantora cabo-verdiana Cesária Évora. Ela e o seu marido decidiram, após uma serie de visitas, permanecer em Cabo Verde, abrindo o restaurante assim como uma agência de viagens destinada a captar turistas europeus para as ilhas.
Cabo Verde oferece muito mais do que apenas belezas naturais e bonitas praias, disse Schelman, acrescentando que as experiências dos turistas podem ser enriquecidos para além da oferta de estâncias onde os turistas são sequestrados da população local.
Apesar da sua pobreza em relação a União Europeia, Cabo Verde tem tido um desenvolvimento significativo nas ultimas décadas. As Nações Unidas estimam a população de Cabo Verde em cerca de 500 mil pessoas, um número igual aos cabo-verdianos que vivem no estrangeiro. As remessas dos imigrantes na diáspora constituem actualmente cerca de 20 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
Cabo Verde saiu da lista das Nações Unidas dos países menos desenvolvidos em 2007 e juntou-se este ano a Organização do Comércio Mundial. Juntamente com o crescimento do PIB, o turismo aumentou substancialmente esta década, com um aumento de seis e meio por cento de visitantes no ano passado, de acordo com o governo. O governo destacou também um aumento de cinco e meio por cento na procura de quartos no ano passado, em grande parte como resultado do contínuo desenvolvimento de estâncias turísticas nas ilhas do Sal e da Boavista.