Moçambique na costa oriental e Angola na costa Ocidental de África poderão estar a tornar-se num alvo das redes internacionais de contrabando de droga.
Especialistas mencionam cada vez mais Moçambique como uma possível plataforma para passagem de drogas vindas da Ásia e América Latina para a Europa. Angola com as suas excelentes e históricas ligações com o Brasil está na mira dos contrabandistas de cocaína. Os especialistas no combate à droga falam já de uma conexão lusófona no tráfico internacional.
No tráfico de drogas para a Europa via África dois fenómenos estão com efeito a ocorrer.
No que diz respeito ao tráfico de cocaína a África Ocidental continua a ser o principal ponto de trânsito. As estimativas da ONU são de 40 a 50 toneladas por ano. Outros peritos dizem que isso é um número demasiado conservador falando em cerca de 200 toneladas anuais. A Guine Bissau é um dos países usados pelos traficantes. Isso não é segredo. Mas agora os traficantes da cocaína estão a diversificar as suas rotas para a África Central e também mesmo África Oriental.
Os traficantes da heroína vinda da Ásia estão por seu turno a aumentar as suas exportações pela África Oriental.
Peter Burgess, um especialista no combate às drogas junto do Comando Africano, o Africom, afirmou numa conferencia aqui em Washington que a heróina É "movimentadado Afeganistão e sul da Ásia através do Paquistão e Índia para a África oriental".
" As estimativas da ONU são de que cerca de 60 por cento da heroína que deixa o Afeganistão fá-lo através do Paquistão, disse Burgess para acrescentar que Quando investigamos o modo como o Paquistão está ligado ao mundo através de rotas de transporte e navegação é fácil de ver que África é um local muito atractivo para se movimentar a heroína".
Quénia, Etiópia e Maurícias aparecem como centros para essas exportações vindas directamente do Paquistão ou passando pelo Dubai.
As Maurícias têm surpreendentemente a segunda maior percentagem de viciados em heroína do mundo. Devido ao número pequeno da sua população pouco se tem tomado em conta essa percentagem. Mas para os especialistas isso indica um consumo de 700 kgs de heroína anualmente. Isso talvez seja o pagamento feito pelos traficantes internacionais a vendedores locais. A pergunta que se faz é óbvia: para onde vai o resto? África do Sul que com as suas ligações com a Europa é um polo de atracção?
A situação geográfica de Moçambique com uma longa costa marítima desprotegida e ao lado da África do Sul com as suas excelentes ligações aéreas e marítimas com o mundo faz com que Moçambique apareça cada vez mais como um local por onde a heroína pode estar a ser traficada.
Isto já foi afirmado por entidades oficiais americanas.
Mas os peritos ouvidos pela Voz da América manifestaram alguma dúvida quanto a isto.
Antonio Mazitelli do departamento da ONU para o combate ao crime e drogas afirmou que "o contrabando existe onde quer que haja a possibilidade de uma rota"pois "se há uma rota os traficantes usam-na". \Mazzitelli disse no entanto que desconhecia "a importância" de Moçambique nesse tráfico já que a sua área de especialização é a Africa Ocidental.
Candace Ross especialista do Africom disse também desconhecer que haja trafico de heroína por Moçambique mas disse que uma outra droga, a cocaína, está agora a ser contrabandeada por Moçambique
" Recentemente ouvimos falar de cocaína a entrar em Moçambique, mais especificamente vinda do Brasil", disse.
O Brasil surge assim como o elo da ligação lusófona aos fabricantes de droga.
Gangues brasileiros estão envolvidos cada vez mais no contrabando de cocaína vindo da Colômbia.
Há definitivamente uma ligação lusófona do Brasil, para Cabo Verde para a Guine-Bissau, disseAntónio Mazitelli das Nações Unidas.
Esta ligação Lusófona faz aumentar a possibilidade de que Moçambique poderá em breve transformar-se num elo da teia dos contrabandistas.
Candace Ross do Africom disse que "os brasileiros têm essas ligações históricas com certos países" que estão a ser exploradas por esses contrabandistas.
"Digo portanto que Moçambique é uma zona de preocupação devido a ligações com o Brasil e devido aos rumores que começamos a ouvir sobre isso," disse a especialista do Africom.
É com esta ligação ao Brasil e ao tráfico da cocaína que surge o nome de Angola.
Angola, estrategicamente situada como porta de entrada da América latina para África central e sul é um atractivo enorme para as redes de contrabandistas de cocaína do Brasil.
Um especialista fez notar os numerosos portos, a enorme costa, a fraca capacidade das instituições policiais.
O crescente número de voos directos e docomércio entre o Brasil e Angola é apontado como um dos "oleodutos" do trafico de cocaína.
Antonio Mazzitteli da ONU confirmou que os traficantes estão a tentar mudar rotas da África ocidental para a África central.
"No que diz respeito à cocaína posso dizer lhe que os traficantes já começaram a desviar parte do seu trafico para a África central", disse Mazzitelli acrescentando que "Já houve algumas pequenas confiscações o que indica que os traficantes por enquanto estão a tentar diversificar as suas rotas".
"A África central está a tornar-se numa dessas rotas", disse.
Uma teia portanto que se começa a desenhar: Colômbia, Brasil, Guiné Bissau, Angola e Moçambique. E qual um dos principais pontos de entrada na Europa da cocaína latino americana através da África? Portugal. Completa se assim a tal conexão Lusófona.