Quando se fala em segurança, de imediato pensa-se em militares, policias, medidas físicas para se proteger locais considerados importantes.
Mas de acordo com o Tenente-Coronel l Shannon Beebe, futuro adido militar americano em Angola, isso é uma concepção ultrapassada que não se aplica às realidades do século XXI em que as grandes ameaças não são provenientes de estados.
"À medida que a maré e as sombras da guerra fria se retiram o que vamos começar a ver é que a segurança nunca foi algo que diga respeito a uma segurança centrada nos estados" disse Beebe que falava numa mesa redonda sobre segurança em Africa organizada pela Câmara de Comércio Estados Unidos Angola.
" A segurança nunca foi algo que diz respeito a relações entre estados" disse o oficial americano acrescentando que "a segurança foi sempre uma colectânea de estabilidades e instabilidades dos seres humanos e de culturas".
O tenente-coronel frisou por isso que as grandes ameaças à segurança não são provenientes de outros estados mas sim de condições existentes em certas áreas. Fez notar por exemplo que o ataque de Setembro de 2001 aos Estados Unidos não foi levado a cabo por um estado
E frisa que na verdade a maior parte das pessoas também é dessa opinião.
Beebe levou a cabo um estudo entre africanos dos mais diversos níveis, desde ministros a condutores de táxis e talvez surpreendentemente houve um acordo sobre o que é ou deveria ser a segurança em África.
Em 80 entrevistas houve quase unanimidade em considerar os seguintes pontos como essenciais para a segurança:
Reformas dos sectores militares, policiais e judiciais; combate à pobreza; acesso a saúde e medidas para combater os efeitos das mudanças climatéricas.
Para o tenente-coronel Beebe ver ameaças à segurança em termos meramente militares ou policiais é algo de ultrapassado que não corresponde as realidades do século 21.
Há sim agora que falar em termos de segurança humana para se garantir a segurança de estados. Essa segurança humana é baseada em vários aspectos disse ele, nomeadamente "a segurança política, outra é a segurança comunitária, outra a segurança pessoal".
"Neste aspecto temos questões como saúde, alimentação, e meio ambiente", acrescentou.
Todas estas componentes encontram-se em África e o tenente-coronel Shannon Beebe afirma que não se pode desligar uma componente de outra.
Nas suas palavras não pode haver desenvolvimento sustentável enquanto não houver segurança sustentável. E como vimos segurança é um termo que tem muitas componentes.
Num país como Angola crescente pressão populacional numa cidade como Luanda, analfabetismo ,e falta de oportunidades pode criar frustração e instabilidade. É o tipo de insegurança que para o Tenente-Coronel Beebe será o aspecto essencial deste século
A questão a perguntar é como é que isto afecta a concepção de uma força militar num país por exemplo como Angola em que – diz o tenente-coronel Beebe - há forças armadas bem equipadas e organizadas mas que não fazem face a uma ameaça externa.
"Porque não uma transição de uma força militar para uma força de segurança onde por exemplo uma brigada está especializada em água e saneamento que pode mesmo colaborar com o nosso corpo de engenheiros? Porque não pensarmos numa brigada de agricultura?" interrogou.
" O excitante sobre o conceito de segurança humana é que podemos ter parcerias com o sector privado e público" disse o oficial para quem "até nos afastarmos do velho e tradicional conceito de segurança e abraçarmos um ponto de vista do século 21 não vamos conseguir isso".
O problema reconhecido pelo próprio militar americano é que muitas das forças armadas africanas são vistas como forças opressivas geralmente aliadas a poderes políticos repressivos que não acrescentam nenhum valor à sociedade e que pelo contrário vivem dos recursos da sociedade. Há que portanto mudar isso "de pernas para o ar", acabar com a situação em que forças militares não fornecem na realidade segurança.
"É uma questão de saber-se se são consumidores de segurança ou produtores de segurança," disse o oficial.
"Isso é algo que nós nos Estados Unidos temos também que compreender: Como é que se produz segurança? Não como é que treinamos exércitos para consumirem segurança".