O Benim dos Edos definiu-se desde os séculos doze e treze como um dos estados mais poderosos e rivais principais do estado yoruba do Oyo, e do Dahomeh Agasuvi, mais a oeste.
O dramático desfecho das ambições do Bashorum Afonsa para proclamar independente o Ilorin, uma das províncias do Alafin, ao norte, tornara-se desde logo num exemplo da crise institucional do estado youruba nos últimos dois séculos antes da ocupação colonial de que temos muito falado aqui.
O Bashorum Afonja começou por perder a direcção política da província cujo comando lhe fora confiado pelo Alafim, o Ilorin, situado no extremo norte, fronteira comercial e cultural com os Yorubas e Hausas do Nupe e Borgu.
Em consequência das ambições do Bashorum Afonja, o Oyo nunca mais recuperou o Ilorin, para sempre integrado no complexo cultural islâmico hausa, como uma conquista do pregador Al-Salimi na luta contra a ousadia independentista de Afonja.
A crise reduzira também o poder do Alafim do Oyo não apenas sobre o resto das suas províncias - além do Ilorim - mas ainda sobre os estados das conquistas do passado, entre os quais, o Dahomeh, na fronteira oeste, numa altura em que surgia um importante vizinho, a leste do Oyo, o Benim, não este Benim nosso contemporâneo, que de Dahomeh passou a adoptar este topónimo em 1975, por razões menos históricas talvez mais do que a legitimidade geográfica de se situar no Golfo do Benim. Por esta razão também a Nigéria dos Yorubas poderia faze-lo.
Mas talvez haja outras evocações de base histórica em que o Dahomeh se apoiara para justificar as suas simpatias pelo seu novo topónimo pós – independência, razões como seja a dissociação simbólica do peso de um passado para sempre ligado, por exemplo aos “Costumes”, ou sejam as famosas festividades anuais aos antepassados, afogadas no sangue de vítimas humanas (escravos ou inimigos vencidos em guerra) a propósito ou ainda o absolutismo monárquico que tudo abrangia e forçava – mulheres, homens, crianças e escravos – feitos além disso mercadorias que animavam as tendas e os quiosques europeus na costa atlântica.
Certamente, não este Benim, simulacro de conveniência do Dahomeh Agasuvi do passado, mas do Benim dos Edos - rival legítimo do Oyo dos Yorubas - o Benim para reiterar, estado que foi sempre deste nome dos séculos transactos; o Benim também dos Portugueses, do Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira, do século de quinhentos, primeiro ensaio nesta parte da África, da busca do Padre João das Índias, pelos mareantes e missionários de Manuel o Primeiro de Portugal.
O Benim a leste do que tinha sido o estado youruba do Oyo. A história deste Benim desenvolvera-se em círculos concêntricos, tal como o foi a do Oyo, e muito também a maneira da do Ashanti dos Assantehenes de Kumasi.
O Benim dos Obas - os seus monarcas que o tempo levou - como os Alafins o foram dos Yorubas, rivais a oeste; dos Assantehenes de Kumasi e dos chefes marciais do Dahome Agasuvi.
O Benim autóctone, obra-prima das iniciativas africanas, tese dogmática da historiografia africanista contemporânea tal como afirmaria a propósito um intelectual africano contemporâneo – Mudimbe - que entre as imagens da África que a Europa rebuscou e levou consigo para a Europa das explorações atlânticas e a realidade estrutural do Continente na altura ia apenas uma distancia de ângulos visuais diferentes.
O Benim dos Edos, símbolo permanente na história do Continente que o tempo ainda não levou.