A formação de um governo de unidade no Zimbabwe continua a ser vista com muito cepticismo nos Estados Unidos. Esse cepticismo é reflectido em jornais como o influente Washington Post que na semana passada afirmou que o último acordo é uma vitória da África do Sul " na sua campanha incansável para preservar o poder de Robert Mugabe sobre um Zimbabué moribundo".
Para o Washington Post a África do Sul e Mugabe calculam "cinicamente" que a nomeação do dirigente da oposição Morgan Tsvangirai irá forçar os Estados Unidos, Grã-Bretanha e outros países ocidentais a levantarem as suas sanções e a iniciarem ajuda económica. Opinou o Washington Post que embora "amiséria do Zimbabwe é na verdade impressionante, mas a administração Obama e outros governos ocidentais devem rejeitar as exigências sul-africanas".
"Há muito que é óbvio que o Zimbabwe não pode recuperar enquanto Mugabe permanecer no poder" disse o editorial do Washington Post que é de opinião que "a África do Sul e outros vizinhos que insistem no apoio a um regime criminoso são eles próprios livres de fornecerem a ajuda que quiserem".
"Os governos ocidentais devem contudo manter as suas sanções, especialmente aquelas que têm como alvo membros individuais do regime de Mugabe e as companhias que controlam" acrescentou.
No editorial titulado "A Falsa Esperança do Zimbabwe" o Washington Post afirmou que sanções só devem ser levantadas depois da libertação de activistas da oposição, a aprovação de legislatura dando à oposição algum controlo sobre as forças de segurança, a substituição do governador do banco central, o levantamento de restrições à imprensa e ao trabalho de jornalistas e um acordo sobre novas eleições presidenciais monitorizadas pela comunidade internacional.
Já Scott Baldauf correspondente do Christian Science Monitor numa reportagem afirmou no entanto que um governo de unidade pode significar que tanto Mugabe como Tsvangirai não terão outra opção senão tentar com que o governo tenha sucesso.
"O longo governo de Mugabe deixou o país na bancarrota, com fome, cheio de doenças e necessitando desesperadamente de ajuda externa," escreveu", Baldauf para quem "Tsvangirari pode não ter soldados mas tem algo que Mugabe precisa desesperadamente, nomeadamente acesso a doadores estrangeiros e peritos que podem fazer o Zimbabwe funcionar de novo".
O correspondente do CS Monitor disse que para Tsvangirai a sua "melhor oportunidade de sobrevivência política jaz em tomar algumas decisões que tenham um efeito imediato na vida dos zimbabueanos".
Repórter do New York Times em Madagascar
Madagáscar foi este fim-de-semana abalado por um confrontos entre polícias e manifestantes que causou dezenas de mortos e centenas de feridos. O confronto em que a polícia abriu fogo sobre manifestantes que se aproximavam do palácio presidencial deu-se após várias semanas de manifestações antigovernamentais lideradas pelo presidente da câmara da capital do país Antananarivo, Andry Rajoelina.
Antes dos confrontos Rajoelina tinha ordenado no fim-de-semana passado o encerramento de ministérios e também que os funcionários públicos não comparecessem ao poder e as escolas fossem encerradas. Ninguém respeitou esses apelos ou ordens e o correspondente do New York Times Barry Bearak escreveu de Antananarivo que "tudo indica que o jovem presidente da câmara de Antananarivo sobre estimou as suas capacidades ao declarar que com o apoio de deus e do povo tinha decidido substituir o presidente Marc Ravalomanana".
O correspondente do New York Times faz notar que a popularidade do presidente, eleito por duas vezes, caiu substancialmente sublinhando também a fortuna de Ravalomanana que controla um grande conglomerado comercial, algo que é visto por muitos como um obvio conflito de interesse.
Mas - escreveu Bearak - o que fez despoletar a actual crise foram notícias de que o presidente tinha negociado um acordo com a empresa sul-coreana Daewoo para arrendamento ou concessão de mais de um milhão e duzentos mil hectares de terra tornando Madagáscar no celeiro da Coreia do Sul.
Mas pode haver mais do que isso.
"A política malgaxe não é uma questão simples e muitos acreditam que o presidente da câmara de Antananarivo de 34 anos de idade é na verdade uma frente para um dos anteriores presidentes do país, Didier Ratsiraka que está exilado" escreveu Bearak.