Diplomatas internacionais e políticos somalis estão esperançosos que o acordo assinado ontem para a partilha de poder entre o governo federal de transição e as facções islâmicas na oposição, vão conduzir ao fim da violência que dura há já quase dois anos.
Críticos consideram que o acordo em causa ainda não teve a aceitação de várias figuras-chaves implicadas no conflito, e até mesmo do presidente somali.
O acordo obtido no âmbito das ultimas conversações inter-somali em Djibouti estabelece o alargamento do parlamento interino de somali de 275 para 550 membros.
Foi atribuída a oposição duas centenas dos assentos parlamentares, enquanto que os 75 restantes serão afectos a sociedade civil.
O novo parlamento alargado deverá eleger entre os seus membros um novo líder e organizar a eleição de um presidente da republica interino no próximo mês de Janeiro.
O mandato do governo de unidade nacional foi igualmente alargado por mais dois anos de forma a consolidar o poder e estabilizar o país.
O enviado especial das Nações Unidas na Somália, Ahmedou Ould-Abdallah que mediou as conversações de paz desde o inicio deste ano em Djibouti considera de encorajador o novo acordo de partilha de poder.
Entretanto em Nairobi o embaixador americano Michael Ranneburger disse a jornalistas, acreditar que o processo de paz venha a avançar positivamente.
“O desafio destina-se a assegurar que o presidente Yusuf e o primeiro ministro trabalhem juntos para assegurar a implementação do acordo. Obviamente que não é um acordo de amizade. Temos também o parlamento que têm as suas perspectivas da situação. Mas estamos pressionando as instituições do Governo Federal de Transição a trabalharem juntos.”
O presidente Yusuf expressou publicamente o seu apoio às negociações de paz de Djibouti. Ele negou ter sido o autor de uma proposta que na semana passada pedia para que as conversações fossem transferidas para a Líbia, e, por conseguinte beneficiar da supervisão do presidente libio Moammar Cadhafi.
Membros do parlamento e próximos ao presidente Yusuf afirmaram que ele emitiu em privado o seu desencanto para com o acordo de partilha de poder e que não era favorável a sua aplicação.
O acordo obtido agora com o líder moderado islamista Sheik Sharif Sheik Ahmed vem na sequência de um pacto assinado em Junho para a implementação de um cessar-fogo e a substituição das tropas etíopes por capacetes azuis das Nações Unidas nos próximos meses.
As tropas etíopes encontram-se na Somália desde finais de 2006 quando a Etiópia decidiu derrubar o governo de União dos Tribunais Islâmicos, e substitui-lo por um governo laico, conduzindo assim o país a um conflito civil liderado por uma rebelião islâmica.
A guerra na Somália já provocou a morte de milhares de pessoas e mais de três milhões de deslocados civis.
O chefe da equipa de negociadores da oposição, Abdirahman Abdishakur Warsame disse a Voz da América estar confiante em que o cessar-fogo possa conduzir a retirada o mais breve possível da presença militar etíope.
“Sim, a questão agora é como encarar as recusas dos que estão no terreno, uma vez que estão a lutar contra a presença das tropas etíopes. E se esta questão for negociada correctamente, penso que ninguém terá a legitimidade em continuar a luta.”
A Etiópia tem resistido aos apelos para a retirada das suas tropas, por causa de receios de que os islamistas somalis venham a unificar-se nas regiões fronteiriças dos dois países, e por vias disso reforçar os seus poderes perante a ausência do controlo militar.
Além disso Adis-Abeba tem-se mostrado impaciente nas ultimas semanas com o governo de transição somali que já indicou que a retirada militar etíope poderá ter inicio dentro de poucas semanas.