Os lideres das mais importantes nações industrializadas estão a prometer
mais ajuda alimentar e assistência agrícola a Africa a fim de aliviar o impacto
do aumento dos preços dos alimentos.
Algumas organizações não-governamentais dizem que a crescente demanda
por biocombustiveis é em parte responsável pela alta dos preços.
Os lideres do G-8 dizem estar preocupados com a possibilidade de que o
forte aumento dos preços globais dos alimentos venha a fazer com que milhões de
pessoas caiam novamente na miséria.
Em vista disso, eles prometeram doar mais de dez mil milhões de dólares
em ajuda alimentar desde o inicio do ano e pediram a outros doadores que se
juntem a eles a fim de fornecer sementes e fertilizantes para a sessão do
próximo plantio.
Os lideres do G-8 afirmaram que vão a apoiar melhorias da
infra-estrutura agrícola, inclusive irrigação, transportes, armazenamento,
distribuição e controlo da qualidade, ao mesmo tempo em que vão contribuir para
o desenvolvimento dos mecanismos de alerta no campo da segurança alimentar.
Nesta cimeira que tem lugar na ilha de Hokkaido, os lideres
do G-8 prometeram colaborar com o Fundo Monetário Internacional na ajuda aos países importadores de
alimentos. Anunciaram também que vão aumentar os investimentos na agricultura
africana com o objectivo de dobrar a produção dos principais alimentos no prazo
de dez anos.
A questão dos preços globais dos alimentos constituiu um
elemento importante das conversações entre os lideres do G-8 e os chefes de
Estado da Africa do Sul, Argélia, Etiópia, Senegal, Tanzânia, Nigeria e Gana.
A Organização de Agricultura e Alimentos, órgão das Nações
Unidas informou que 37 países são os mais afectados pela subida do preço dos
alimentos. Dentre eles, 21 se encontram em África.
Charles Abani pertence à entidade conhecida como Apelo
Global a Acção para Acabar com a Pobreza, uma coligação de grupos que se
empenha para melhorar os padrões de vida no mundo em desenvolvimento.
"As famílias vêem se forçadas a escolher entre alimentos e
educação, alimentos e saúde, e essa crise agrava a situação".
O aumento do preço dos alimentos deriva de um certo numero
de factores, inclusive o maior custo do transporte, a seca, e a demanda
crescente manifestada por uma classe media em expansão na China e na Índia.
Deve citar-se também a maior superfície de terra que está a ser cultivada para
produzir biocombustiveis, como o etanol.
A organização não-governamental ActionAid diz que os
biocombustiveis são responsáveis por um terço do recente aumento do preço dos
combustíveis. Carol Kayra, que faz parte do grupo, diz que isto é ruim para
Africa.
"A África foi designada como a fonte dos biocombustiveis no
futuro, sejam eles implementados ou cultivados. E nós, africanos, dizemos Não!. Em primeiro lugar, é preciso
haver mais pesquisas sobre os biocombustiveis. Em segundo lugar, já estamos a
enfrentar dificuldades para produzir mesmo os artigos básicos necessários para
nos alimentarmos e se, portanto, os artigos de que precisamos para nossa
alimentação vão ser desviados para gerar biocombustiveis, o problema vai se
agravar."
Os lideres do G-8 garantem que vão ser tomadas providencias
a fim de que a produção sustentável de bicombustiveis seja compatível com a
segurança alimentar. Isso deverá ser conseguido por meio da aceleração do
desenvolvimento de biocombustiveis tirados de material que não seja na base de
plantas, ou que se origine do refugo.
Joseph Suuna é o Secretario-Geral do grupo militante PELUM,
que promove o aproveitamento ecológico da terra. Diz ele que a crescente
procura de biocombustiveis no mundo em desenvolvimento está a prejudicar a
agricultura africana.
"Do ponto de vista de uma comunidade global, não deve
importar se as pessoas que estão na iminência de morrer habitam a Africa. A
verdade é que o problema é tanto africano, quanto da própria comunidade. Do
mesmo modo que um tsunami na Ásia torna-se um problema africano ou americano,
assim acontece com o alimento em Africa".
Na declaração sobre segurança alimentar, os lideres do G-8
se comprometeram a formar uma parceria global sobre agricultura e alimentos que
envolvem os governos dos países em desenvolvimento, doadores, o sector privado
e a sociedade civil.
Segundo o Banco Mundial, o
aumento dos preços do trigo, arroz, e milho custou aos países em
desenvolvimento, no ano passado, mais de 320 mil milhões de dólares. A Oxfam
Internacional afirmou que a inflação relativa aos alimentos consumiu 5 por
cento do Produto Nacional Bruto de Moçambique e Eritréia, assim como 10 por cento do PNB do Senegal, Haiti, e
Serra Leoa.