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Conté Dialoga com Militares Revoltosos


O presidente da Guiné-Conackri, Lansana Conté, reuniu-se com militares que se amotinaram na semana passada devido a questões salariais e políticas. Neste momento estão em curso negociações para acabar formalmente com a revolta que se saldou pela morte de pelo menos três pessoas e dezenas de feridos. Os revoltosos abandonaram a exigência da demissão de oficiais superiores depois do governo ter pago salários em atraso. Entretanto a capital, Conackri, tem-se mantido calma desde sexta-feira depois de quatro dias de tumultos.

Soldados da Guarda Presidencial foram colocados, na sexta-feira, em pontos estratégicos na capital, Conackry, nomeadamente na Ponte 8 de Novembro, que conduz a cidade.

Na quinta-feira, registou-se uma confrontação naquela ponte entre a guarda presidencial e soldados amotinados, tendo ambos os lados disparado tiros para o ar. A capital estava calma, na sexta-feira, mas as bombas de gasolina e as lojas continuavam encerradas por receio de mais violência e pilhagens.

Desde segunda-feira, jovens soldados do exército guineense, irados com o não pagamento dos seus salários, começaram a efectuar distúrbios. Pelo menos uma pessoa morreu e mais de uma dúzia ficaram feridos.

A violência principiou depois da surpreendente demissão do primeiro-ministro Lansana Kouyate pelo presidente Lansana Conte através de um decreto presidencial lido sexta-feira à noite na televisão estatal.

Kouyate foi nomeado primeiro-ministro no princípio do ano passado, após protestos violentos contra o presidente Conté terem causado mais de 100 mortos. Quando foi nomeado primeiro-ministro, Kouyate prometeu aumentar os salários dos militares. Alguns soldados disseram que não eram pagos desde 1996.

Na terça-feira, o novo primeiro-ministro Ahmed Tidiane Souare, um membro do partido do presidente Conté, disse que ia começar a pagar aos soldados o equivalente a 1100 dólares americanos no final deste mês de Maio.

O presidente Conté demitiu também o ministro da Defesa, como parte das negociações com os soldados. Mas, a violência continuou, enquanto alguns soldados exigiam a demissão de mais oficiais superiores do exército.

Dustin Sharp, da Human Rights Watch, falando do Burkina Faso, afirmou que uma divisão no exercito guineense entre militares jovens e a velha guarda fermenta há vários anos. Disse ele: “As divisões de gerações no seio do exército são provavelmente mais pronunciadas do que as divisões étnicas. Em geral, temos um grupo de jovens oficiais em ascensão, frustrados pelo facto de sentirem que os oficiais barrigudos no topo da hierarquia não permitem novas promoções e levam uma vida faustosa enquanto que eles sofrem.”

Sharp acrescentou que os motins no exército guineense não são novidade e que o governo deve levar em conta a atitude dos oficiais revoltados. O novo primeiro-ministro Souare prometeu que os amotinados serão punidos: “A indisciplina a que temos assistido esta semana no exército guineense, com disparos para o ar e a tomada oficiais generais como reféns, é devida, em parte, à recusa constante do governo, durante anos, de punir os responsáveis pelos crimes que tenham cometido. A falha do governo em castigar os amotinados constitui uma ameaça à própria estabilidade do governo.”

Sharp acrescentou que os motins militares do passado habitualmente estiveram enraizados em problemas envolvendo dinheiro, mas algumas das suas fontes disseram que a actual divisão entre jovens e velhos oficiais poderá, eventualmente, materializar-se num movimento concreto.

A Guiné-Conackry é rica em minérios, possuindo mais de um terço das reservas mundiais conhecidas de bauxite. No entanto, a maioria da sua população vive na pobreza.

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