No Zimbabué, notícias divulgadas hoje por meios de comunicação estatais asseguram que o presidente Robert Mugabe não irá participar da Cimeira que se realiza sábado, 12, em Lusaca, capital da Zâmbia.
Trata-se de uma reunião de emergência convocada pela Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, SADC, onde será debatida a crise política no Zimbabué. Crise desencadeada com as eleições do passado dia 29 de Março. Segundo as mesmas notícias, Mugabe se fará representar por três membros de seu gabinete.
Essas informações contrariam as expectativas iniciais de que tanto Mugabe, quanto o líder da oposição, Morgan Tsvangirai, estariam presentes no encontro de Lusaca.
Entretanto hoje as autoridades zimbabueanas proibiram a realização de manifestações na capital, Harare. O clima de tensão aumenta dia após dia com o impasse do processo eleitoral.
O Movimento para a Mudança Democrática, força de oposição, tinha marcado uma manifestação para amanhã, sábado. O Movimento também convocou uma greve geral a partir da próxima terça-feira. Mais uma tentativa de pressionar a Comissão Eleitoral a divulgar os resultados das presidenciais.
A oposição está convicta da vitória. Segundo seu próprio apuramento, Morgan Tsvangirai derrotou o presidente e também candidato Robert Mugabe.
Para o Movimento oposicionista, o silêncio da Comissão Eleitoral pode ser parte de uma manobra de Mugabe para tentar estender seus 28 anos de governo.
Essa suspeita levou o partido a anunciar ontem que não participará de uma eventual segunda volta contra Robert Mugabe. O Movimento não acredita numa votação livre e equitativa. A oposição ainda acusou Mugabe de militarizar o processo eleitoral.
E a guerra de palavras promete continuar. Essa, pelo menos, é a expectativa de Brian Raftopoulus, director do sector de pesquisa da Organização Independente para a Paz e a Solidariedade (Independent Solidarity Peace Trust).
«Considerando a história da actuação da Sadec, duvido que decidam alguma coisa. Talvez façam uma declaração num tom, eu diria, brando, a respeito do regime», afirma Raftopoulus.
Em entrevista à Voz da América, Raftopoulus manifestou o seu desejo de que a SADC reconheça que o processo eleitoral não atingiu os seus objectivos. Objectivos traçados o ano passado entre as forças governamentais e as de oposição, sob a mediação do presidente da África do Sul, Thabo Mbeki. O primeiro desses objectivos era que o processo fosse legítimo. O bloqueio dos resultados por parte de Mugabe, no entanto, levanta muitas dúvidas.
Raftopoulus considera que os lideres regionais têm agora que ser honestos e só depois decidir o que fazer. «Tem de haver uma crítica pública do processo e deve pedir-se a imediata divulgação dos resultados. Depois, deve-se ajudar a estabelecer um processo político que permita superar a crise e voltar a aproximar as principais forcas políticas. Ou seja, a divulgação dos resultados é o ponto de partida para definir o que se fará depois», explicou.
É bom lembrar que, até agora, a Comissão Eleitoral só divulgou resultados referentes às legislativas realizadas igualmente no passado dia 29 de Março. Sobre as presidenciais, a Comissão diz agora que não pode divulgar nada até segunda-feira, 21, quando o Supremo Tribunal de Harare deverá pronunciar-se a respeito da petição da oposição que pede, justamente, a imediata divulgação dos dados.
A crise no Zimbabué tem sido o tema central de conversas entre vários líderes africanos. A mais recente aconteceu hoje, sexta, entre os presidentes da África do Sul e de Moçambique. Foi um encontro à porta fechada acerca do qual a imprensa nada soube. Um diálogo que certamente continua amanhã em Lusaca.