Líderes palestinianos e israelitas concordaram, ontem, em negociar um acordo final até ao termo do próximo ano, pondo ponto final a sete anos de impasse. As partes envolvidas anunciaram a decisão durante a Cimeira de Annapolis, adiantando que os EUA irão acompanhar de perto o evoluir do processo.
O anúncio do compromisso para a busca de um acordo de paz até ao fim do mandato do presidente Bush surgiu como uma surpresa adicional ao seu discurso de abertura, perante a Cimeira de Annapolis.
Partilhando o palco da Academia Naval de Annapolis com o primeiro-ministro israelita israelita, Ehud Olmert, e com o presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, Bush leu um comunicado conjunto elaborado por aqueles dois líderes, prometendo negociações “continuadas e vigorosas” para o estabelecimento de um acordo sobre a criação de dois Estados, até ao fim do ano 2008.
Israelitas e palestinianos estabeleceram uma comissão para supervisionar o processo que será iniciado no dia 12 de Dezembro, iniciativa que será apoiada por encontros bi-mensais entre os dois líderes.
Abbas e Olmert comprometeram-se também em pôr em prática todas as suas obrigações, ao abrigo do Roteiro para a Paz celebrado em 2003 com o apoio do Quarteto Internacional para o Médio Oriente, do qual fazem parte os EUA, a Rússia, a União Europeia e as Nações Unidas. O Roteiro para a Paz está largamente por cumprir. O acordo agora firmado estabelece que os EUA irão supervisionar o processo negocial.
No discurso que proferiu perante perto de 50 representantes de países e organizações internacionais, o presidente Bush disse ser esta a altura oportuna para negociações de paz porque ambos os lados têm líderes determinados em obter a paz e combater o terrorismo: “Uma batalha está em marcha em prol do futuro do Médio Oriente e nós não podemos dar a vitória ao extremistas. Com as suas acções violentas e o seu desprezo pela vida humana, os extremistas buscam impôr uma visão negativa ao povo palestiniano, uma visão que alimente o desespero para semear o caos na Terra Santa. Se esta visão prevalecer, o futuro da região será de terror sem fim, de uma guerra sem fim e de um sofrimento sem fim”.
Os testemunhos políticos dos dois principais protagonistas, Olmert e Abbas, sublinharam as dificuldades da tarefa que os espera.
O presidente Abbas disse que os palestinianos irão insistir em ter a capital do seu Estado em Jerusalém Oriental, que Israel capturou durante a guerra de 1967, e em ser encontrada uma resolução total para a questão dos refugiados palestinianos.
Falando através de um intérprete, Abbas prometeu aos palestinianos um acordo de paz que lhes dará a independência e a autodeterminação colocando-os, segundo disse, em posição de igualdade com todos os outros povos do mundo:
“Cada um de vocês sofre a sua própria dor, a sua tragédia pessoal, em resultado deste conflito e como resultado de anos de tragédia e de ocupação. Estes são anos difíceis. Mas não estejam deprimidos, não percam a esperança e a confiança, porque todo o mundo está agora a estender as suas mãos na nossa direcção para nos ajudar a pôr fim à nossa tragédia, ao holocausto que tem estado em vigor há demasiado tempo.”
O primeiro-ministro Olmert, ouvido também através de um intérprete, disse que Israel não é indiferente às tragédias a que os palestinianos têm sido submetidos, adiantando que tem esperança que as negociações irão produzir uma calendarização apropriada para fazer face à questão dos refugiados, questões que estão em aberto no processo de paz: “As negociações servirão para debater as questões que, até agora, temos evitado. Vamos fazer isto de uma forma, directa e corajosa. Não evitaremos nenhuma questão. Iremos lidar com todas as questões de base. E estou convencido de que de que a realidade que emergiu na nossa região, em 1967, irá mudar significativamente. Este será um processo extremamente difícil para muitos de nós mas é, apesar de tudo, inevitável”.
A conferência incluiu muitos países árabes, alguns dos quais a Arábia Saudita e o Sudão, que não mantêm relações diplomáticas com Israel.
O MNE da Arábia Saudita, Saud al-Faisal, um importante participante, aplaudiu educadamente o discurso de Olmert, muito embora um dos seus adjuntos tenha anunciado que o dirigente saudita não iria trocar um aperto de mão com os delegados israelitas, afirmando que a sua participação na Cimeira se fez por razões de substância e não de estilo.