O presidente cessante da França, Jacques Chirac, termina o seu mandato dentro de poucos dias, mais precisamente no dia 17 de Maio, abrindo caminho para Nicolas Sarkozy, um político de centro-direita que derrotou a candidata socialista Segolene Royal na corrida para a chefia do Estado.
Jacques Chirac, um político de centro-direita, de 74 anos de idade, tem sido uma poderosa força na política francesa durante mais de quatro décadas.
Inspirado pelo general Charles de Gaulle a entrar para a vida política, Chirac foi eleito, em meados dos anos 60, para a Assembleia Nacional para representar a zona rural de Correze. Chirac entrou para o governo, pela primeira vez, em 1967 quando o então presidente Georges Pompidou o nomeou para um cargo de vice-ministro.
Jacques Chirac foi, por duas vezes, primeiro-ministro. Primeiro durante dois anos durante a presidência de Valery Giscard D´Estaing, depois à frente de um governo do Chefe de Estado, François Mitterrand. Aqueles foram anos difíceis da chamada co-habitação entre um presidente do centro-esquerda e de um primeiro-ministro de centro-direita. Esta experiência durou também dois anos.
Chirac foi, igualmente, presidente da Câmara de Paris, durante 18 anos: de 1977 a 1995. Durante esse período foi afectado por escândalos de corrupção, envolvendo o financiamento do seu partido e as suas despesas pessoais. Mas, Chirac nunca foi responsabilizado.
Ao tentar pela terceira vez a presidência, em 1995, acabou por ser eleito para o Palácio do Eliseu. Em 2002, foi reeleito para um segundo mandato de sete anos. Chirac não concorreu a um terceiro mandato, e a França acaba der eleger para a presidência um outro político de centro-direita: Nicolas Sarkozy.
Charles Kupchan, um perito em questões europeias no Conselho de Relações Externas, afirma que a vitória de Sarkozy culmina com a reforma de uma geração de líderes franceses ligados à II Guerra Mundial. Disse Kupchan:“E aqueles líderes franceses, sejam eles neo-gaullistas como Chirac ou socialistas como Mitterrand tenderam a preservar a herança do gaullismo, que jogou um papel destacado no mundo, de uma Europa que fazia frente aos EUA”.
Em termos de política externa, peritos afirmam que Chirac irá ser lembrado, sobretudo, pela sua forte oposição à invasão americana do Iraque, em Março de 2003.
As relações entre Washington e Paris permanecem tensas em resultado das divergências sobre o Iraque. Mas, analistas adiantam que Sarkozy, que é abertamente pró-americano, irá começar a reparar as relações com os velhos aliados.
No Médio Oriente, Chirac tentou reafirmar a influência francesa, especialmente junto da Síria e do Líbano, suas antigas colónias. E, em África, tentou emendar o relacionamento com antigos territórios coloniais.
Simon Serfaty, perito sobre a Europa no Centro para os Estudos Estratégicos Internacionais, afirmou que, durante toda a sua vida política, Chirac tomou posições corajosa: “Por exemplo, poucos meses depois da sua eleição ele, por fim, reconheceu a responsabilidade do Estado francês durante a II Guerra Mundial, ao colaborar na perseguição da população judaica e pediu desculpa em nome da França pelo que se passou. Chirac recusou-se a visitar a África do Sul sob quaisquer circunstâncias, enquanto o “apartheid” não fosse abolido”.
Analistas afirmam que um dos maiores falhanços de Chirac na política externa ocorreu em 2005, quando foi incapaz de convencer os franceses a votar a favor da nova Constituição europeia. Na frente interna, ao longo da sua presidência, Chirac foi incapaz de pôr em prática reformas económicas e sociais significativas.
Charles Kupchan afirma que, não obstante, aqueles revezes, os êxitos da política de Chirac são provavelmente mais significativos do que lhe está a ser reconhecido: “Ele tem sido, de certa forma, um presidente diminuído desde o voto do “não”, em 2005, sobre a constituição europeia. E depois o seu governo sofreu também um desaire quando o primeiro-ministro Dominique de Villepin tentou implementar uma revisão da lei laboral e as pessoas foram para a rua e levantaram barricadas. Mas, de uma forma geral, durante a ultima década, Chirac guiou a política francesa razoavelmente bem. A economia francesa, muito embora esteja lenta, com uma taxa de desemprego rondando os dez por cento, Chirac obteve, ainda assim, resultados positivos durante a sua presidência.”
Muitos analistas afirmam que o novo presidente, Nicolas Sarkozy, vai centrar a sua atenção na política interna, que segundo um analista, foi virtualmente esquecida durante a campanha eleitoral para a presidência francesa.