Da costa marítima da Guiné Bissau, tem partido nos últimos tempos a maior parte das embarcações com imigrantes africanos clandestinos a bordo, com destino a Europa, particularmente para o arquipélago espanhol das Canárias. A revelação consta de uma reportagem sobre a matéria, do jornal espanhol El Pais.
No âmbito das operações do fecho ao cerco a imigração clandestina, que conta com o envolvimento de meios navais europeus de patrulhamento da fronteira euro-africana e a parceria de um grupo de países da região ocidental de África, a rede de trafico ilegal de imigrantes africanos com destino a Europa, parece ter definitivamente assentado arraias na costa da Guiné Bissau.
Não sendo inéditas as denuncias relativas à permeabilidade das fronteiras guineenses, a confirmação de que redes de trafico ilegal de imigrantes encontraram definitivamente santuários naquele pais, parece ter entretanto apanhado de surpresa o primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes que se manifestou ontem surpreendido com o teor da reportagem do jornal espanhol, El Pais.
Recorde-se que tanto o chefe do departamento das Nações Unidas de combate à droga e ao crime organizado na África Ocidental, António Mazzitelli, como a própria guarda costeira americana, advertiram em ocasiões distintas as autoridades bissau-guineenses para a natureza permeável das fronteiras do pais.
A noticia de que redes de imigração ilegal têm conseguido burlar a vigilância costeira guineense para lançarem operações de imigração clandestina, a partir do território nacional, com destino às costas da Europa, não deixa de acordo com fontes em Bissau de contribuir ainda mais para o agravamento da preocupação internacional para com as “facilidades” locais ao crime organizado e transfronteiriço.
De acordo com aquele jornal europeu, dezenas de pescadores reconvertidos em traficantes de imigrantes africanos tem conseguido atravessar a fronteira da Guiné Bissau para estabelecerem a actividade em três pontos costeiros estratégicos daquele pais da África Ocidental.
Lê-se ainda na mesma reportagem, que recentemente uma pequena embarcação com 47 imigrantes a bordo teria sido interceptada na localidade de Varela, na noroeste do pais, uma antiga estancia balnear considerada pelo jornal como um dos três principais pontos de partida da imigração ilegal africana com destino ao arquipélago das Canárias.
Para a aventura europeia, os clandestinos africanos desembolsam entre 600 a 900 euros a rede de imigração ilegal e cruzam a fronteira senegalo-guineense em autocarros de transporte públicos com destino a Varela.
A VOA conseguiu por outro lado apurar que um grupo de imigrantes ilegais teria sido recentemente e ao acaso, interceptado pelas autoridades policiais guineenses, que aparentemente os terão confundido com pescadores furtivos ou com rebeldes da guerrilha independentista da província senegalesa do Casamance.
Entretanto, dois outros locais surgem identificados na reportagem do El Pais, como pontos de passagem de imigrantes ilegais africanos, com destino às costas europeias. As ilhas do arquipélago dos Bijagos, no sudoeste do país e o porto pesqueiro de Bandim em Bissau, este ultimo, palco recentemente de uma operação militar que culminou na captura de armas e munições alegadamente destinada aos rebeldes independentistas do Casamance.
A uma distancia de aproximadamente quatros horas de barco da capital Bissau, e praticamente desabitada, as redes clandestinas de imigração ilegal aproveitam-se das facilidades concedidas pela localização estratégica e o próprio isolamento do arquipélago dos Bijagos, para prepararem as viagens dos candidatos à imigração ilegal a Europa.
A facilitar a tarefa, impõe-se a própria incapacidade da marinha de guerra guineense, no patrulhamento dos 700 quilómetros de costa marítima nacional.
Sem meios e lanchas rápidas de patrulha, Bissau espera, entretanto que de Madrid venham os meios financeiros e materiais a superação das dificuldades da sua caduca marinha nacional.
Para já se sabe, que no quadro das operações de patrulhamento das fronteiras marítimas euro-africanas, iniciativa europeia implementada em parceria com meios navais de países da África Ocidental, nomeadamente de Cabo Verde, da Mauritânia, Madrid não estaria profundamente entusiasmado em estender as operações de vigilância marítima, as costas da Guine Bissau, já que na rota para o arquipélago das Canárias, as precárias embarcações de imigrantes clandestinos passam de forma incontornavel pelas costas patrulhadas dos países vizinhos..