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A Vice-Presidente do Burundi Demite-se em Sinal de Protesto


A vice-presidente do Burundi, Alice Nzomukunda, demitiu-se do cargo, ontem, terça-feira, na capital, Bujumbura, alegadamente em protesto contra o mau desempenho do Estado na gestão das finanças e os inúmeros casos de violação dos direitos humanos perpetrada pelas forças policiais e denunciadas pelas organizações activistas internacionais.

Perante este cenário, a vice-presidente do Burundi garantiu que não poderia ficar indiferente aos problemas do país, saído de uma guerra civil que durou mais de dez anos.

Um ano depois das eleições históricas terem levado ao poder o ex- líder rebelde Pierre Nkurunziza, o Burundi continua num constante desacerto de passo com a estabilidade preconizada.

Casos de insubordinação , violação dos direitos humanos, de corrupção extremada e uma onda de detenções relacionadas com uma alegada conspiração para derrubar o governo, marcam o actual cenário político no Burundi.

Na base da situação de instabilidade reinante poderão estar desentendimentos profundos envolvendo a partilha do poder político-militar no país.

Todos os principais grupos rebeldes hutu do Burundi aderiram ao acordo de paz que conduziu a elaboração de uma nova constituição que prevê, entre outros aspectos, uma fórmula de partilha de poder político e militar, dominado desde que o pais se tornou independente da Belgica em 1962, pelos membros da etnia tutsi, para além de eleições democráticas.

Entretanto, apenas um grupo rebelde, as Forcas Nacionais de Libertação (FNL) se recusa a assinar o acordo e, apesar de ter aderido às negociações com o governo, a FNL continua a atacar posições militares das forças governamentais.

Como resultado da situação de impasse, os líderes das Forcas Nacionais de Libertação e o governo do presidente Nkurun Ziza concordaram, recentemente, no reatamento das conversações de paz, com vista a um acordo final de paz que deverá, em princípio, ser assinado nesta quinta feira na capital tanzaniana, Dar Es Salam.

Recorde-se, todavia, que negociações idênticas, realizadas no início do ano, resultaram infrutíferas devido a divergências em redor da aceitação das condições para um cessar fogo definitivo.

Jan Van Eck, analista político do Instituto de Estudos Estratégicos da África do Sul, explicou, a propósito, à VOA o impacto que a actual situação política no Burundi tem nas conversações de paz a decorrerem na Tanzânia: “O que tem agravado a situação em Dar es Salam, tem sido a deterioração da situação política interna do país, marcada pelas frequentes denúncias de casos de violação dos direitos humanos cometidos por certas instituições ligadas ao Estado e que têm contribuído para minar a confiança dos rebeldes das Forcas Nacionais de Libertação face a um eventual regresso ao Burundi” -frisou Van Eck.

Diplomatas ocidentais têm criticado o governo do presidente Nkurunziza, sobretudo pela forma como lidou com a alega da tentativa conspiração para o derrubar do poder, na sequência da qual vários suspeitos, incluindo o ex-presidente Domitien Ndayi Zeye, foram detidos pelas forças de segurança do país.

Mas, o governo do Burundi insiste ter provas da intentona e desmente as violações dos direitos humanos, isto apesar das organizações activistas internacionais o responsabilizarem pela campanha de perseguição de opositores políticos, de activistas dos direitos humanos e anti-corrupção em curso desde Maio último.

Enquanto isso, o líder das Forcas Nacionais de Libertação, Agathon Rwasa, disse à VOA que o grupo continua querer uma reacção do governo a proposta de cessar fogo: “ Viemos aqui para negociar e não podemos apenas dizer, celebremos um acordo de cessar-fogo, sem abordarmos uma série de outros assuntos, nomeadamente políticos ou técnicos. Estamos dispostos a assinar algo que faça sentido e não nada imposto e sem sentido. Por exemplo, uma simples questão como a desmobilização das forças por forma a que consiga um cessar-fogo real não esta sendo resolvida. Pergunto: como é que poderemos ter esperança em reformas profundas no futuro?”

O Burundi, um pequeno país da região dos Grandes Lagos e que faz fronteira com a República Democrática do Congo, com o Rwanda e a Tanzânia conseguiu, em 2003, ultrapassar uma situação de guerra civil que durou 13 anos e que custou a vida a mais de 300 mil pessoas.

Desde a sua independência, em 1961, o Burundi tem sido palco de tensões étnicas, opondo a minoria étnica tutsi a maioria hutu, naquele que é encarado, como o mais antigo conflito no continente africano.
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