No Burundi prosseguem as diligencias para recuperar o país de mais de uma década de guerra civil. O governo e as Nações Unidas chegaram, recentemente, a acordo sobre a constituição de duas comissões pós-conflito para tratar de crimes praticados durante a guerra.
A formação das comissões está rodeada de controvérsia, e o governo e o ultimo grupo rebelde, ainda tem de obter a paz.
A cidade de Bujumbura encontra-se rodeada num lado por montanhas verde e as aguas frescas do Lago Tanganica, envolvidas pela montanhas envoltas de neblina da Republica Democrática do Congo, pelo outro lado.
Torna-se difícil de imaginar que a calma e pitoresca Bujumbura e a zona rural do Burundi tenham sido cenário de uma brutal guerra civil que irrompeu em 1993, custando a vida a trezentas mil pessoas.
No ano dois mil teve inicio um processo de paz que culminou em eleições democráticas realizadas em 2005, e segundo os termos do processo de paz, o novo governo deve trabalhar na reconstrução do pós-guerra.
No final de Março, as Nações Unidas e membros do governo chegaram a acordo sobre a formação de duas novas instituições para ajudar ao avanço do país: a comissão da Verdade e da Reconciliação; e a comissão da Justiça que irá agir judicialmente sobre os crimes contra a humanidade cometidos no Burundi desde a independência em 1962.
Salvator Ntacobamaze, o chefe do Protocolo do Burundi e antigo ministro do Interior descreveu o objectivo da Comissão da Verdade e da Reconciliação.
‘O Burundi passou por uma serie de actos de violência desde a independência. Não sabemos quem cometeu o que, quando e o porquê! Começámos a recolher dados de casos sem realmente termos conhecimento de quem fez o quê e qual o objectivo. Temos de re escrever a historia do Burundi para que as futuras gerações tenham informação sobre o que realmente ao Burundi para que tenhamos possibilidade de construir o país evitando o que aconteceu aos antepassados.’
Diz ainda que a equipa governamental que reuniu com elementos da ONU tenciona recolher pontos de vista sobre como as actividades das duas comissões devem ser conduzidas.
Muitas atrocidades como assassínios, violações sexuais, destruição de propriedade e ainda outros crimes registaram-se antes e durante a guerra civil, que foi o culminar de tensões latentes entre as etnias Hutu e Tutsi.
Os Tutsi constituem 15 por cento da população do Burundi, e ate recentemente dominaram o exercito e a esfera política. O conflito teve inicio em 1993 após o exercito dominado pelos Tutsi assassinou o primeiro presidente democraticamente eleito, que era um Hutu.
A directora executiva de um grupo que analisa as políticas governamentais, aplaudiu a ideia de um mecanismo para expor e resolver os crimes os crimes antes e durante a guerra, mas sublinha que as comissões integram maioritariamente políticos e entidades do governo, um desequilíbrio que poderá comprometer a sua objectividade.
No entanto, e talvez o maior obstáculo às iniciativas de paz, continuam a ser os ataques das Forças de Libertação Nacional, ou FNL.
O grupo é o único movimento rebelde que não foi integrado no governo de partilha de poder e no exército durante o período de transição desde a assinatura, no ano dois mil, do acordo de Arusha, até aos sufrágios democráticos do ano passado.
O líder do principal partido da oposição, Leonardo Nyangoma, acusa o governo de arrastar os pés nas diligencias de paz com a FNL.
‘O governo é responsável por trazer a FNL a mesa das negociações. Considero que o governo tem responsabilidade no iniciar de conversações. O governo não quer dar inicio as negociações, não quer partilhar o poder com a FNL.’
O chefe do protocolo de Estado, Ntacobamaze, que lidera a comissão responsável pelas negociações com a FNL sustenta que o Executivo esta a conversar com o grupo rebelde, mas tem que encontrar maneira de minimizar o impacto dos massacres das populações.
As negociações entre responsáveis da FNL e o governo que deveriam ter tido inicio o mês passado, foram canceladas.