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A UNITA 40 Anos Depois


Por ocasião desta data, a direcção da UNITA definiu como prioridades a conquista da plena reconciliação nacional, a despartidarização efectiva dos órgãos do estado, a erradicação da fome e da pobreza para alem do direito a saúde e a educação.

Quarenta anos depois, o que devem os angolanos esperar deste partido da oposicao angolana, protagonista, por sinal, a par do MPLA no poder, de uma das mais fratricidas guerras do continente africano.

Este e outros aspectos do percurso da UNITA, abordados aqui numa entrevista concedida pelos líder da UNITA, Isaías Samakuva, à VOA.

VOA: Sr presidente, 40 anos de existência como partido, diríamos nós uma idade adulta.. Mas, as se a UNITA hoje tivesse hipoteticamente que reformular ou repensar algumas das suas acções ou opções passadas quais identificaria à partida ?

Isaías Samakuva: Eu penso que quarenta anos de existência é uma vida que dá para amadurecimento. Naturalmente, que, durante este percurso de quarenta anos, houve situações difíceis, mas o percurso de uma vida e no fundo uma espécie de um desenho feito com uma caneta, sem borracha. Naturalmente, que se identifica os contornos menos correctos, menos precisos, menos agradáveis e obviamente a UNITA teve momentos dessa natureza.

VOA: O não acatamento dos resultados das eleições e o regresso às matas…pelo desfecho penoso que teve não só para os angolanos no geral como para a própria UNITA, terá sido um desses momentos ?

IS: Eu penso que falar em reformular aquilo que já foi feito, estaríamos aqui a falar de meras quimeras.

VOA: Falemos então do presente e do futuro. A UNITA e um movimento que, por assim dizer, ao longo dos seus 40 anos de existência teve sempre uma imagem de marca ligada a todos os níveis ao seu fundador, Jonas Savimbi. Quando e confrontado com a necessidade de reformar e de modernizar o partido, sente-se, em certa medida, também refém desse passado ?

IS: Não há duvidas de que o Dr. Savimbi, como líder, como homem marcou de uma forma profunda a vida da UNITA. Num contexto próprio, num contexto da sua época num contexto em que o mundo estava divido em dois blocos, num contexto em que as colónias portuguesas e não só, precisavam de se libertar. Portanto, tudo isso naturalmente marcou a UNITA, mas o partido está hoje numa era completamente diferente daquela vivida pelo Dr Savimbi e, naturalmente, nós temos a responsabilidade de ajustar a UNITA aos tempos de hoje. A UNITA desde sempre se bateu por uma melhoria da vida dos angolanos, pela democracia, por uma repartição mais equitativa das riquezas do pais e, por conseguinte, temos que definir que modernização pretendemos quando abordamos estes aspectos.

VOA: É claro que é líder de uma UNITA, num contexto completamente distinto, mas até que ponto a sua liderança acaba por ter que fazer face, e da parte dos seus militantes e dirigentes, um clima de uma certa dependência, de um certo apego a esse passado, com reflexos na sua própria liderança ?

IS: Não, não sinto resistência alguma ! O Dr Savimbi marcou profundamente a vida da UNITA. Naturalmente que encontraremos muitos militantes que encaram o Dr Savimbi como uma referência incontornável. Mas, também sabem que estão numa era completamente diferente e que precisam de ajustar os métodos de trabalho, os métodos de actuação aos tempos actuais.

VOA: Apesar de uma certa incógnita quanto a marcação da data das eleições. A UNITA ao que tudo indica, poderá realizar o seu congresso no próximo ano. Assim sendo seria candidato à sua própria sucessão ?

IS: Absolutamente! Isso é uma decisão que já tomei e já anuncie !

VOA: Já agora qual e a posição da UNITA relativamente ao debate sobre a possibilidade da realização simultânea das eleições presidenciais e legislativas ?

IS: Nós pensamos ser muito mais económico para o país, e sobretudo para os partidos da oposição que não têm os mesmos meios que o partido do governo. Realizar as eleições de uma só vez ( as legislativas e as presidenciais) seria mais económico e mais prático e mais fácil.

VOA: Falemos de uma vertente passada da UNITA, a militarista. Hoje quando esta questão vem à baila, a debate, fica-se com a sensação de que todo o ónus da responsabilidade por esse pretérito momento do partido, recai única e exclusivamente sobre Jonas Savimbi…Óbviamente que cabe sempre ao líder a assumir a responsabilidade pelas opções…Mas, até que ponto, quando se tratou da assumpcao colectiva dessa etapa, alguns companheiros de Savimbi, se terão furtado a essa responsabilidade ?

IS: Quando falamos desta questão, eu não me referiria apenas aos meus colegas da UNITA. Mas o país inteiro terá que assumir essa responsabilidade que é colectiva. A guerra não se faz só com uma parte. E repito, culpados fomos todos e todos fomos vítimas. Portanto, temos que olhar para o passado com coragem e aceitarmos as nossas responsabilidade e encararmos o futuro com realismo, sentimento de reconciliação e de unidade nacional.

VOA: E relativamente à tese de que Jonas Savimbi teria sido traído nas matas do Leste do país, por companheiros seus ?

IS: Há muitas histórias que se levantam sobre esse episódio. A verdade e que ele já não existe, morreu. Quem o matou é algo que a história dirá.

VOA: A UNITA celebrou recentemente o seu quadragésimo aniversario, com apelos a unidade interna, comemorações essas antecedidas pela decisão da Comissão Política do partido de expulsar dois outrora influentes dirigentes históricos do partido e quatro outros deputados. Obviamente, decisão adoptada pela maioria dos 250 membros daquela comissão,diria. Mas pergunto até que ponto, por detrás desses apelos a unidade estarão problemas internos bem mais delicados por resolver?

IS: É possível que existam outros problemas. Mas, os problemas que nós identificamos estão claros. Foram problemas de indisciplina, questões que violam de uma forma flagrante os estatutos do nosso partido. Foi por isso que tomamos a decisão que tomamos.

VOA: Jorge Valentim, um dos expulsos do partido, defendeu recentemente algo semelhante: a necessidade de uma sindicância às contas da UNITA. Estaria disposto a aceitar esse desafio?

IS: Porque não ? Aliás, as contas da UNITA são sempre apresentadas nas reuniões da Comissão Política e elas estão claras e ninguém recearia uma sindicância. Mas, pensamos que esse não é o assunto do momento.

VOA: Falemos de um outro histórico do partido: Abel Chivukuvuku. Para alguns observadores, tem assumido posições que mais se aproximam a de um espectador atento do que a de um membro da comissão politica…

IS: Eu tenho visto o Sr Abel participar nas reuniões da melhor maneira possível, pelo que penso que só os pensam dessa forma poderiam clarificar melhor esse aspecto.

VOA: Na sua intervenção na reunião da comissão política, disse e cito a tentativa de criar uma dissidência na bancada parlamentar da UNITA não deve ser tratada como um ataque à direcção da UNITA, mas a democracia aqui urge insta-lo a precisar algo a quem eventualmente se referia… ao partido que sustenta o governo, ao MPLA ?

IS: Referi-me aqueles que o fazem e eles sabem quem são.

VOA: E quem são ?

IS: Não é preciso !

VOA- Perante a crise dos deputados da UNITA no Parlamento, chegou inclusive a admitir a possibilidade da UNITA abandonar aquele forum, se essa questão não for resolvida. No passado, por razões e circunstâncias outras, a UNITA tinha também ameaçado abandonar o governo de Unidade Nacional… Vai desta o partido cumprir à risca a ameaça ?

IS: Nós não prometemos. Levantamos essa questão e dissemos na altura que não encararíamos a questão de ânimo leve. Mas, é um cenário a ser admitido.

VOA: A UNITA controlou, no passado, algumas minas de diamantes. Recentemente, uma empresa de exploração diamantífera ligada a personalidades do partido foi licenciada para a exploração desse minério… Da parte do governo e do partido no poder, o MPLA, são os generais, os governantes a controlarem sectores chaves da economia e a própria riqueza do país. Até que pondo escapa ao razoável, definitivamente ao aceitáve, que os grandes partidos políticos angolanos controlem as riquezas do pais ?

IS: No caso da UNITA, nós não controlamos nada. Houve um aspecto discutido durante o processo de processo de paz em que ficou concordado que pessoas afectas da UNITA, seriam permitidas entrar em projectos e iniciativas empresariais. É um processo normal em toda a parte do mundo. Não se trata aqui da UNITA, mas de cidadãos próximos da UNITA e que desejam entrar nesse negócio de diamantes.

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