A ausência esta terça-feira num tribunal de Haia, Holanda, de Bento Bembe, presidente do fórum Cabindês para o diálogo, e secretário-geral da FLEC não foi suficiente para inviabilizar a sessão onde se deveria decidir a sua extradição ou não para os Estados Unidos, e pelos vistos não lhe criará nenhum problema perante a justiça holandesa.
Embora estivesse ausente, um tribunal de Haia decidiu que Bento Bembe não será extraditado para os EUA, contrariando assim um pedido de Washington que o queria julgar por um alegado envolvimento em 1990 no rapto do cidadão norte-americano Brent Swan técnico de aviação ao serviço da Chevron em Cabinda, norte de Angola. Brent Swan esteve sob cativeiro durante dois meses no interior de Cabinda. A sua libertação consumou-se após negociações com a Chevron em que terá tomado parte Artur Tchibassa, entretanto condenado em Setembro de 2004 nos Estados Unidos a 24 de prisão por participação neste caso.
Terão concorrido para a decisão do tribunal de Haia, cartas dos governos de Angola e da Holanda que diziam que Bento Bembe era uma peça fundamental para o processo de paz em Cabinda pelo que pediam que não fosse extraditado. Os juízes teriam considerado o facto de Bento Bembe ter ido a Holanda numa missão conducente à busca de uma solução para o caso de Cabinda. Victor Koppe advogado holandês que representa Bento Bembe disse à Voz da América que este já não tem nenhum problema legal na Holanda.
“Poder-se-á dizer que teria sido melhor que ele estivesse presente em tribunal, porque da maneira como o ministério dos Negócios Estrangeiros da Holanda respondeu às questões postas pelo juiz, e pelo facto dele ter recebido imunidade diplomática da parte do governo angolano temos a certeza que ele ganharia o caso, e o assunto não teria encerrado desta maneira.Seja como isto não faz diferença nenhuma porque o tribunal deu o caso por encerrado.”
Victor Koppe recusou-se a falar sobre o paradeiro de Bento Bembe. Disse entretanto que não recebeu nenhuma indicação de que os Estados Unidos venham a interpor recurso, pelo o que o caso está encerrado.
O encerramento do caso não esgota o assunto. Bento Bembe foi absolvido, recebeu imunidade do governo de Angola e apoio do governo holandês, mas continua desaparecido. Amigos e correligionários não sabem do seu paradeiro. Manuela Serrano uma das fundadoras da Associação do Tratado de Simulambuco - Casa de Cabinda, disse a partir de Lisboa que a preocupação começou a partir do momento em que se soube que Bento Bembe não tinha comparecido à audiência em que seria decidida a sua extradição ou não.
“ Estamos bastante preocupados com isso. Estamos a fazer demarches junto do governo da Holanda, porque um ser humano não desaparece assim da Europa sem mais nem menos. Não é uma agulha, não é um objecto que possa desaparecer só assim. Entretanto fomos confrontados no dia 15, o dia do julgamento, com notícias saídas na imprensa segundo as quais uma carta do governo angolano apresentada em tribunal dizia que tinha o Senhor Bento Bembe como uma pessoa credível e séria e que ele era indispensável ao processo de paz. O governo angolano pedia que ele não fosse extraditado porque aos olhos do governo de Angola as razões que levaram a sua detenção estavam ultrapassadas”.
Manuela Serrano entende que a interpretação dada ao caso de Bento Bembe devia ser extensiva ao senhor Artur Tchibassa .
“À data da prisão o senhor Tchibassa não pertencia sequer a nenhum dos movimentos cabindenses. Ele apenas serviu de interlocutor, porque sabia falar uma série de línguas. Para nós é também um caso a ponderar”.
Para os todos efeitos a prioridade da Associação do Tratado de Simulambuco-Casa de Cabinda em Portugal, é o paradeiro de Bento Bembe. “Ele continua desaparecido. A única que sabemos é o que vamos lendo nas notícias, mas não temos nenhuma garantia ou certeza”.