John Garang era o líder carismático do Movimento de Libertação Popular do Sudão, conhecido pela sigla inglesa SPLM, que dominou a parte sul do país e lutou contra o governo de Cartum durante mais de duas décadas.
O grupo assinou um fortemente elogiado acordo de paz com o governo sudanes no principio do ano, pondo fim a mais longa guerra civil em África. Em Julho passado, Garang tornou-se vice-presidente num governo de unidade nacional.
Ao anunciar o acordo em Janeiro, Garang disse ter tomado a determinação em alcançar a paz. Considerou o acordo de paz como o primeiro de muitos obstáculos a serem ultrapassados, um comentário que mereceu fartos aplausos.
John Garang era de origens humildes. Nasceu em 1945 numa pequena aldeia Dinka no sul do Sudão. A Educação foi uma prioridade através da sua vida. Depois de ter frequentado a escola localmente e na Tanzânia, formou-se no Grinnell College, no Estado do Iowa, nos Estados Unidos e posteriormente doutorou-se pela Universidade Estadual do Iowa.
O seu treino militar incluiu uma presença no Curso de Oficiais de Infantaria do Exercito dos Estados Unidos em Fort Benning, no Estado da Georgia. Era casado com Rebecca de Mabior, outra líder do SPLM, com quem teve cinco filhos.
Grupos de direitos humanos criticaram Garang por não ter investigado abusos de direitos humanos cometidos pela ala militar do seu movimento durante a guerra civil. Mas depois da guerra ter terminado, Garang manifestou forte preocupação pelo bem estar das populações do sul do Sudão.
Em Junho, aquando de uma estada sua em Washington, Garang disse no programa televisivo “África Journal” da VOA que, apesar do acordo de paz e de mais de quatro mil milhões de dólares prometidos de ajuda internacional, a situação na sua região natal era ainda desesperada.
“Por isso, existe a ironia de ter assinado um acordo de paz e a situação humanitária no sul do Sudão estar actualmente pior.”
Garang falou também sobre o continuo e mais recente conflito na região ocidental sudanesa de Darfur, que tem ecos de uma guerra civil Norte-Sul.
“Estamos solidários com a população de Darfur. Uma situação horrível. No espaço de três anos, mais de dois milhões de pessoas ficaram deslocadas e vivem agora em condições muito miseráveis e em campos de internamento. Alguns deles preferirem ir para o exílio.”
Há duas décadas, Garang liderou rebeldes contra Cartum para acabar com a dominação árabe e muçulmana do sul negro cristão e animista. Mais recentemente, ofereceu-se para enviar algumas das suas antigas tropas rebeldes para ajudar a fornecer segurança em Darfur, juntamente com forças do governo sudanes e da União Africana.
O professor George Ayitteh, da Universidade Americana, em Washington DC, descreve a perda de Garang como um grande revés para o processo de paz do Sudão.
“John Garang, presentemente, significa muito para o Sudão, no sentido de que, foi um homem que lutou perto de 15 anos na mata e dispôs-se a sentar com o governo de Cartum e a estabelecer um acordo de paz.”
John Garang era vice-presidente do Sudão há menos de um mês. O helicóptero que o transportava de regresso ao Sudão após uma viagem privada ao Uganda despenhou-se sob mau tempo no domingo, matando a ele e todos os que seguiam a bordo. Tinha 60 anos de idade.