No mais recente episódio do programa Fala África VOA, Chocolate Brás, educador e pesquisador angolano, abordou com profundidade os desafios e as oportunidades no cenário educacional de Angola.
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná e com ampla experiência em gestão académica e pesquisa, Brás defende uma abordagem crítica e contextualizada para as políticas públicas de educação no país.
Com anos de atuação no Ministério da Educação e no Instituto Superior Politécnico Sol Nascente, Brás explica como essas vivências moldaram sua visão crítica.
"Minha experiência permitiu-me ter um olhar mais profundo sobre as políticas públicas. Entendi que a ausência de uma política é, por si só, uma decisão política. Por exemplo, quando não há água ou eletricidade nas escolas, é porque outra prioridade foi escolhida", afirmou. Essa reflexão impulsionou a sua pesquisa para além da pedagogia tradicional, com foco na educação como direito humano e prioridade do Estado.
A Internacionalização das Políticas Educacionais
Outro ponto central da conversa foi o impacto das políticas supranacionais na educação angolana. Brás destacou que, embora a cooperação internacional seja essencial, ela precisa ser adaptada aos contextos locais. "Angola tem sido uma vítima consentida da regulação supranacional. Muitas vezes, aceitamos políticas e programas que não consideram a nossa realidade, como escolas sem água, sem luz, e sem condições básicas. Boas práticas só funcionam quando ajustadas ao contexto", sublinhou o educador, criticando a transferência acrítica de modelos internacionais.
Brás também alertou para os perigos de dependência de consultorias externas. "Os consultores estrangeiros leem os estudos de pesquisadores angolanos que o próprio governo ignora. Isso revela uma desconexão preocupante entre a academia e os tomadores de decisão em Angola", apontou.
Uma Visão para o Futuro
Questionado sobre o futuro da educação em Angola, Brás apresentou um plano em quatro pilares. O primeiro passo, segundo ele, é colocar a educação no centro do debate político e público. "A educação é um direito humano fundamental, mas ainda não ocupa o lugar de destaque que deveria na agenda política de Angola", frisou.
O segundo ponto é a definição de um paradigma educacional próprio para o país. "Precisamos decidir que angolano queremos formar, tendo em conta os desafios sociais, políticos e económicos do país", explicou. Além disso, ele defendeu um financiamento robusto para as escolas, já que, atualmente, "mais de 60% das escolas não têm banheiros funcionais e mais de 70% não têm eletricidade".
Por fim, Brás enfatizou a importância de integrar ciência e política na gestão pública. "Governar com base na ciência significa ouvir as universidades, os centros de investigação, e usar esse conhecimento para tomar decisões fundamentadas. Este diálogo é essencial para o desenvolvimento do país", concluiu.
Educação como Transformação Social
Para Brás, a educação é o alicerce do desenvolvimento de Angola. "Investir na educação é investir nas pessoas. Sem isso, o futuro social, económico e político do país estará comprometido", afirmou enfaticamente. Suas palavras ecoam a urgência de uma mudança de paradigma, na qual a educação deixa de ser vista como despesa e passa a ser reconhecida como o investimento mais estratégico para o futuro do país.
Com uma visão clara e argumentações fundamentadas, Chocolate Brás desafia o status quo e inspira um debate necessário sobre o papel transformador da educação em Angola. Este episódio do Fala África reafirma a importância de repensar as políticas públicas educacionais e fortalecer o diálogo entre os vários atores da sociedade.
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