A União Europeia (UE) diz estar "extremamente preocupada" com a onda de violência despoletada pelos resultados eleitorais em Moçambique e pediu "contenção" das partes envolvidas.
"Apelamos igualmente à responsabilização e à justiça para se resolver os casos de violação dos direitos humanos", diz a UE em comunicado enviado terça-feira, 23. O organismo europeu "encoraja o Presidente eleito e a nova administração a iniciarem rapidamente um diálogo construtivo com a oposição e com as organizações da sociedade civil pertinentes" para "fazer respeitar os valores democráticos e os direitos humanos".
A União Europeia lembra ter enviado uma Missão de Observação Eleitoral (MOEUE) às eleições moçambicanas, com cerca de 180 elementos, com o intuito de "contribuir para o reforço da democracia em Moçambique".
"A MOEUE constatou irregularidades durante a contagem dos votos e a alteração injustificada dos resultados eleitorais. A missão apelou aos órgãos eleitorais para que assegurem a máxima transparência do processo de contagem e apuramento", lembra o comunicado da UE.
A União Europeia assegura que "continua disponível para apoiar Moçambique na reforma do sistema eleitoral", sendo que "as próximas recomendações da MOEUE poderão contribuir para essa reforma".
Pelo menos 16 mortos em menos de dois dias
Há pelo menos 16 mortos registados desde segunda-feira, 23, resultado dos protestos que assolam o país. De acordo com a organização não governamental Plataforma Eleitoral Decide, a maioria das mortes foi registada em Nampula, Zambézia e Sofala. A Plataforma registou ainda 42 pessoas baleadas e 72 detenções.
Entretanto, a companhia aérea angolana TAAG decidiu cancelar os voos desta terça-feira com destino a Maputo, devido à insegurança pós-eleitoral, a fim de "garantir a segurança dos nossos passageiros e tripulação", pode ler-se na página de instagram da companhia aérea.
Após o anúncio do Conselho Constitucional (CC), que atribuiu a vitória eleitoral a Daniel Chapo, da FRELIMO, o país mergulhou numa nova onda de manifestações que, para além das vítimas, tem provocado a destruição de inúmeras infraestruturas públicas e privadas.
O candidato presidencial apoiado pelo PODEMOS, Venâncio Mondlane, que tem dirigido os protestos, apelou à não destruição de propriedades. Mondlane registou, segundo o CC, 24,19% dos votos, Ossufo Momade 6,62% e Lutero Simango 4,02%.
Lutero Simango, líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), disse não reconhecer os resultados eleitorais e acusou a FRELIMO de ser um "governo ilegítimo e um Governo não popular". Em conferência de imprensa, em Maputo, Simango apelou ao diálogo para se colocar um ponto final na violência.
"Recusar o diálogo construtivo, inclusivo, participativo é adiar o futuro de Moçambique, e adiar o futuro de Moçambique significa alimentar mais violência. Já chega de violência, já chega", pediu o candidato do MDM.
Ossufo Momade, da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) havia já declarado, igualmente, não reconhecer os resultados divulgados pelo CC.
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