O Papa Francisco apelou na segunda-feira, 9, à tomada de medidas contra os abusos de jovens durante uma visita a Timor-Leste, a nação de maioria católica que tem sido abalada por casos de abuso sexual de crianças envolvendo o seu clero nos últimos anos.
“Todos somos chamados a fazer tudo o que for possível para evitar qualquer tipo de abuso e garantir uma infância saudável e pacífica a todos os jovens”, afirmou num discurso.
O Papa não mencionou um caso específico nem reconheceu qualquer responsabilidade do Vaticano.
Grupos de defesa tinham apelado a Francisco para que se pronunciasse sobre o assunto e ele já se tinha encontrado com vítimas em viagens à Irlanda e a Portugal, mas a sua agenda oficial para esta viagem não incluía tais eventos.
Os casos em Timor-Leste incluem o do Bispo Carlos Ximenes Belo, galardoado com o Prémio Nobel, que o Vaticano puniu secretamente devido a alegações de que teria abusado sexualmente de crianças durante décadas.
Noutro caso no país, o padre americano Richard Daschbach, que foi destituído do cargo, foi considerado culpado em 2021 de abusar de raparigas órfãs e desfavorecidas e condenado a 12 anos de prisão.
No seu discurso de segunda-feira, Francisco também saudou a nova era de “paz e liberdade” de Timor-Leste, duas décadas depois de ter alcançado a independência da vizinha Indonésia.
A nação emergiu de uma ocupação indonésia brutal que deixou mais de 200.000 timorenses mortos, tornando-se formalmente independente em 2002.
Recebido por enormes multidões
O Papa Francisco foi recebido por enormes multidões que se manifestaram nas ruas de Díli, a capital deste país predominantemente católico, onde a sua visita está a suscitar um fervor sem precedentes.
Depois da Indonésia e da Papua-Nova Guiné, Francisco aterrou em Díli para a terceira etapa da maratona de visitas do pontífice à região Ásia-Pacífico, a mais longa e longínqua do seu pontificado, que continua na quarta-feira em Singapura e termina na sexta-feira.
O Papa, que parecia estar em boa forma, apesar do ritmo frenético da última semana, e que recebeu um lenço como sinal de boas-vindas, foi recebido pelo Presidente José Ramos-Horta no aeroporto, que está fechado aos voos civis durante três dias.
Francisco foi depois aplaudido por dezenas de milhares de pessoas que transportavam bandeiras e guarda-chuvas oficiais com as cores amarela e branca do Vaticano, com os brasões dos dois Estados e o logótipo da visita.
Em Díli, cidade encravada entre as montanhas e as águas azul-turquesa do estreito de Ombai, onde as autoridades desobstruíram as estradas e realojaram os sem-abrigo, ouviam-se gritos à passagem do Pontífice, enquanto muitos usavam t-shirts com a imagem do Papa.
A história do país mais jovem do Sudeste Asiático, uma democracia incipiente com uma população de 1,3 milhões de habitantes, foi marcada por séculos de colonização portuguesa, 24 anos de ocupação indonésia (1975-1999) e um referendo apoiado pelas Nações Unidas.
De segunda a quarta-feira, o país - que assistiu à chegada do catolicismo através de missionários no século XVI - viverá a sua primeira visita papal desde a independência, em 2002, com destaque para uma missa ao ar livre onde são esperados 700 mil fiéis.
Na segunda-feira à noite, o Papa discursará perante as autoridades no palácio presidencial.
Mensagem de paz
A última visita papal a Timor Leste foi efectuada por João Paulo II em 1989, quando o país ainda estava sob ocupação indonésia.
Desde que o país se tornou independente, no final de uma ocupação sangrenta que causou mais de 200.000 mortos, os líderes da “Geração de 75” são considerados heróis da independência, a começar pelo Presidente José Ramos-Horta, galardoado com o Prémio Nobel.
Neste país pobre, onde 98% da população é católica, a visita de Francisco suscitou um enorme entusiasmo.
“Espero que esta visita do Papa Francisco traga uma mensagem de paz”, disse Francisco Amaral da Silva, um professor de 58 anos.
Francisco vai encontrar-se com jesuítas, crianças deficientes e fiéis católicos, entre outros.
Os fiéis da vizinha Indonésia vão mesmo atravessar a fronteira para a ocasião: um gabinete de imigração local anunciou que mil pessoas farão a viagem.
Apesar do seu peso na sociedade, o catolicismo não é a religião do Estado em Timor-Leste e o país tem pequenas comunidades de protestantes e de muçulmanos sunitas.
É um dos países mais pobres do mundo, fortemente dependente das receitas do petróleo e do gás que, segundo os especialistas, poderão esgotar-se dentro de alguns anos.
Para fazer face às despesas, Silverio Tilman, um professor de 58 anos, montou uma banca de rua em Díli para vender artigos com a imagem do Papa, tendo angariado 600 dólares (541 euros) em dois dias, mais do dobro do salário médio mensal.
[Noticia atualizada]
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