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Responsabilização criminal por danos em bens públicos em protestos em Angola asfixia sociedade civil, avisam ativistas


Protesto contra mau estrado das estradas no bairro Uíge, em Luanda, Angola, 15 Fevereiro 2023
Protesto contra mau estrado das estradas no bairro Uíge, em Luanda, Angola, 15 Fevereiro 2023

Movimentos cívicos preparam manifestos e processos judiciais contra a legislação aprovada pelo Parlamento angolano

Movimentos cívicos angolanos admitem recorrer à justiça contra a Lei dos Crimes de Vandalismo de Bens e Serviços Públicos aprovada na quinta-feira, 18, pela Assembleia Nacional, com votos de todos os partidos à excepção da UNITA.

A lei prevê crimes de destruição do património público, danos ao bem público, atentado à segurança e subtracção de bem público e prevê um agravamento especial da pena quando na instigação estiverem envolvidos funcionários públicos.

Responsabilização criminal por danos em bens públicos em protestos em Angola asfixia sociedade civil, avisam ativistas
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No entendimento de ativistas, a responsabilização criminal de promotores de manifestações que provoquem danos em bens públicos em Angola, com a possibilidade de penas entre três e 25 anos de prisão, está a ser vista como parte de uma estratégia governamental para asfixiar e deixar a sociedade civil sem espaço para participação na vida pública.

Nas reacções há observações críticas e o anúncio de abaixo-assinado numa altura em que se aguarda pela promulgação pelo Presidente da República, mas há quem considere que não há motivos para receios.

Em considerações gerais, o Governo, através do secretário de Estado para Justiça, Osvaldo Amaro, alerta para o que chama de aumento significativo de acções de vandalismo, quando actores da sociedade civil, trazendo ao debate a velha denúncia de infiltrados em manifestações, falam em pretexto para asfixiar as organizações.

A ativista Florence Kapita, membro da Tchatokota, uma organização feminina, lamenta a postura das autoridades e lembra as razões para os protestos no país.

“Pela diplomacia não conseguimos, já que não existe uma relação saudável entre quem governa e o povo angolano, nem os governantes mostram disponibilidade em ouvir aquilo que o povo diz sobre as políticas públicas com impacto na vida dos cidadãos e que resultam na perpetuação da pobreza”, critica a ativista.

Para Kapita, “responsabilizar os promotores de manifestações por vandalismo feito por outro indivíduo … para mim é medida mais política do que jurídica, isso defende os governantes que são os primeiros vândalos do dinheiro público”.

A ativista anuncia uma série de cções concertadas entre várias organizações cívicas, com realce para abaixo-assinados e comunicados de imprensa, no sentido de uma alteração do rumo dos acontecimentos.

Florence Kapita acrescenta que ativistas cívicos não conseguiram dialogar com deputados aquando da discussão sobre a lei que regula a atividade das organizações da sociedade civil, outro instrumento que, conforme assinala, faz parte da estratégia acima mencionada.

Por seu turno, o sociólogo Victorino Roque considera que as leis devem deixar de ser pensadas para uma determinada franja e avisa que o Executivo deve atacar as manifestações com serviços sociais básicos.

“Eu acho que devíamos atacar as causas profundas, como a sobrevivência e a falta de alternativas positivas no país, o Estado deve garantir o bem estar das famílias, dando comida para não ter bens danificados e depois a justificação é a falta deste bem”, realça, acrescentando que “já se percebeu que a massa [população] vai sendo prejudicada em detrimento de outra classe”.

Já o académico e líder juvenil Lucas Katimba minimiza o alarido em torno deste artigo da lei.

“Quem organiza o evento conhece o grupo alvo e as pessoas que convida para participar. Logo, tem mais detalhes para mostrar e identificar quem vandalizou, daí que a lei esteja bem posicionada”, salienta o líder juvenil.

MPLA, no poder, PRS, FNLA e PHA votaram favoravelmente à lei, que prevê pena de expulsão do território nacional para cidadãos estrangeiros.

No dia da aprovação, o secretário de Estado para Justiça falou ainda em comportamentos frequentes, com incalculáveis prejuízos financeiros, económicos e sociais.

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