O líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, propôs que o governo estabeleça contactos com os insurgentes, que atuam na província moçambicana de Cabo Delgado, mas especialistas dizem que enquanto a soberania não estiver em risco Maputo não vai ceder.
Lutero Simango, presidente da terceira força parlamentar, insiste que deve haver diálogo e que urge o governo a encontrar mecanismos para a localização da liderança dos insurgentes, que atacam distritos de Cabo Delgado há seis anos.
“O Governo tem a capacidade de conhecer as motivações destes terroristas e, em função disso, estabelecer a linha de contacto”, referiu Lutero Simango, sublinhando que o luto e o sofrimento da população, causados pela guerra, devem cessar.
O político, que já defende a tese desde 2022, reiterou que, em todo o mundo, as chacinas humanas nas guerras se resolvem através de diálogo, e que, se o governo considerasse a medida, a província de Cabo Delgado não estaria a assistir atualmente à segunda maior vaga de deslocados desde o início dos ataques em 2017.
Entretanto, analistas políticos e de segurança observam que, na atual conjuntura internacional e local do conflito, não há imposições que possam forçar as autoridades a negociar com os terroristas, como acontece quando os rebeldes avançam sobre o maior território de um país e ameaçam derrubar e tomar o poder central.
Estado não vai ceder
Aly Jamal, analista político e de segurança, afirma que os governos tendem a negociar com os terroristas quando notam a probabilidade de perder a guerra e a soberania colocada em causa.
A título de exemplo, Jamal lembra que o governo foi forçado a negociar com a Renamo, porque a guerrilha já estava em toda a extensão de Moçambique, e, só por precaução, “não assumiu o poder em Chimoio e Quelimane”, capitais provinciais de Manica e Sofala, respetivamente.
“Apesar do sofrimento que o povo está a ter, o Governo tem um grande dilema - não pode automaticamente correr a fazer negociações sem se certificar que as negociações vão produzir bons resultados e se vão ter aceitação generalizada”, porque as vozes mais intensas mundiais, do Médio oriente a Ásia, estão a dizer “não à negociação com fundamentalistas e terroristas”, precisa Jamal.
Por sua vez, a professora e investigadora, Liazzat Bonate, entende que a soberania e a constituição ainda não foram colocadas em causa pela guerra em Cabo Delgado, não havendo, por isso, condições para o governo ceder alguma coisa aos rebeldes.
“Onde os rebeldes tiveram um pequeno sucesso, são lugares bem identificados, onde tiveram apoio popular. Então, para negociar o estado tem que ceder alguma coisa e o estado não vai ceder a soberania e a constituição”, afiança.
Fórum