A rádio em Angola tem sido um instrumento de propaganda política, algo que deve ser alterado, disse o docente universitário, Alcides Ferreira Chivango.
A opinião de Chivango foi partilhada por outros analistas que, aproveitando o Dia Mundial da Rádio, sublinharam o papel importante que este meio de comunicação tem no desenvolvimento e democratização de um país, na medida em que esta produz e garante à sociedade o acesso à informação, promove a paz, a cultura e a identidade nacional.
O jornalista Manuel Luamba disse que o exercício do serviço de rádio feito com responsabilidade e de acordo com os pressupostos legais e naturais desta actividade, poderá contribuir para o desenvolvimento do país.
«O trabalho dos órgãos de comunicação social tem um grande impacto na sociedade e na vida das pessoas», afirmou.
Mas Alcides Ferreira Chivango, docente universitário, disse que é altura de mudar o paradigma da rádio em Angola, devendo ser mais democratizada, humanizada e congregacionista.
«Sinto que ainda temos uma rádio propagandista e divisionista. A Rádio deve ser congregacionista», referiu o analista.
Analistas e jornalistas frisam que, devido à facilidade de acesso, a rádio é um dos meios de comunicação social mais populares no país e, nesse sentido o plano estratégico preliminar do Governo de Angola até 2050, prevê a extensão do sinal de rádio, actualmente fixada em 31%, para 95% até 2050, sendo que até 2030 a ideia é que atinja os 49%.
O plano estratégico preliminar do Governo de Angola até 2050 passa também pela melhoria dos serviços públicos de informação, promovendo conteúdos no idioma local e programas destinados a populações rurais e mais vulneráveis.
Para o jornalista Manuel Luamba, a rádio pode ser um instrumento de democratização do país, devido à facilidade de acessibilidade, tendo em conta a realidade social e económica da maioria dos angolanos, sobretudo aqueles que habitam em zonas rurais onde se regista uma constante falta de energia eléctrica.
Manuel Luamba, também membro do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, considera que o desenvolvimento do estado democrático e de direito passa pela construção diária da democracia através do acesso à informação livre e plural.
«Não há país que se desenvolva sem democracia e não há democracia que cresça sem a liberdade de imprensa”, disse o jornalista, acrescentando que, “não há liberdade de imprensa sem que haja cidadãos que façam uso da livre expressão dos pensamentos e sentimentos».
Angola registou nos últimos 10 anos um expressivo aumento do número de estações de rádio, mas estas, segundo o analista Alcides Ferreira Chivango nada trouxeram de novo do ponto de vista da promoção da liberdade de expressão e de pensamento, assim como da pluralidade da informação.
«O surgimento de mais rádios em Angola não trouxe a melhoria da qualidade dos serviços. É de lamentar que vimos nos últimos 10 anos o surgimento de mais rádios, mas que não desempenham o seu papel. Com algumas pessoas a fazerem comentários não muito livres, condicionados», disse.
O serviço público de rádio teria sido melhor prestado se as mais de 30 rádios surgidas nos últimos anos se refletissem na pluralidade de informação, acredita o jornalista.
“Nós vemos que há determinadas vozes críticas à governação e ao estado que não têm espaço em muitas destas rádios surgidas nos últimos 10 anos. Se assim é, então não acho que tenha melhorado”, defendeu Manuel Luamba.
O jornalista José Gama disse, contudo, que as rádios que nasceram nos últimos dez anos têm atendido às necessidades da sociedade, tendo a qualidade de serviço melhorado em termos de liberdade de expressão e de opinião, assim como de acesso. “A rádio tem ajudado a dar uma percepção sobre a vida na Angola profunda” , acrescentou Gama.
O profissional refere que a aposta em novas tecnologias de informação e comunicação pelos fazedores de rádio tem ajudado na melhoria do serviço social prestado ao país.
“Os jornalistas angolanos precisam adaptar-se aos novos desafios e contexto não apenas no capítulo das novas ferramentas digitais e modernas, mas também no que a cultura de verificação de factos diz respeito”, afirmou Manuel Luamba.
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