A privatização dos hotéis apreendidos em Angola ao empresário Carlos São Vicente, orientada há duas semanas pelo Presidente João Lourenço, pode favorecer grupos económicos sem cultura hoteleira, adverte um conhecido industrial do ramo.
Defensor de uma linha de financiamento capaz de apoiar empresas com tradição no sector, Jorge Gabriel, que esteve mais de 20 anos na liderança da Associação dos Hoteleiros de Benguela, lamenta que se verifiquem já movimentações para o que diz ser a entrega da rede de hotéis a grupos sem educação para um serviço à altura dos desafios.
Na provínvia de Benguela vidros quebrados, fissuras em paredes e um cenário de matagal, com o capim a tomar conta dos recintos são visíveis em algumas das unidades da rede Ika e IU, parte das 39 que deverão ser privatizadas em vários pontos do país, conforme o decreto presidencial.
Gabinetes do estado tomaram conta de parte de alguns desses hoteis.
O empresário Jorge Gabriel critica a falta de incentivos a favor da classe e avança que serão os mesmos de sempre, actuais gestores de hotéis do Estado nas províncias de Benguela, Namibe e Huíla.
“Inclusive já se deslocaram a Benguela para visitar estas unidades, os mesmos que ficaram com os hotéis ligados ao Infotur] [Instituto de Fomento do Turismo]”, disse.
“O problema é que os outros não têm os meios financeiros, nem como concorrer porque os bancos não financiam, só os mesmos”, refere. Gabriel paa quem aquele que vai ficar com os hoteis é o dono do peixe, é o dono do sal, é o dono da carne, é o dono da fuba”.
“ Podemos ter paredes bonitas, como nestes hotéis de que falei, mas fraco nos serviços por falta de educação profissional neste ramo“,advertiuaquele industrial.
O presidente da Associação Hotéis de Angola, Jorge Nunes, avisa que é necessário um plano de gestão, sublinhando que as queixas de falta de dinheiro continuam visíveis
“Se não há dinheiro, não conseguimos fazer milagres, todos se queixam, mas aquilo precisa de um plano de gestão, não basta comprar”, argumenta o hoteleiro,.
Na ronda efectuada, a VOA apurou que alguns compartimentos destes hotéis, em Benguela e outras províncias, deverão ser transformados em dependências da Justiça, Procuradoria-geral da República e tribunais.
A funcionar num IU está já a delegação provincial da Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE).
Estas transformações não são bem vistas pela Associação dos Hotéis e Resorts de Angola, segundo o seu presidente, Ramiro Barreira.
“Espero que sirvam mesmo o desenvolvimento do turismo, até porque foram feitos ajustados a normas internacionais. Falo dos quartos, das lavandarias e não só, são hotéis, não se pode fazer escritórios”, defende o associado.
A Voz da América procurou abordar o Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE), sobre esta e outras matérias ligadas ao concurso público, mas sem sucesso.
Os hotéis apreendidos a São Vicente, genro do primeiro Presidente angolano, estão também em províncias como Huíla, Moxico, Huambo, Malanje e Bengo.
Custaram entre 34 milhões e 72 milhões de dólares norte-americanos.
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