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Ex-guerrilheiras da Renamo dizem estar excluídas da agenda de paz


Ex-guerrilheiras na última base da Gorongosa, Moçambique
Ex-guerrilheiras na última base da Gorongosa, Moçambique

Autoridades governamentais afirmam que esforços estão em curso para a sua inclusão económica e dos seus dependentes afetados pela guerra.

Mais de 250 ex-guerrilheiras da Renamo, no centro de Moçambique, desmobilizadas no âmbito do âmbito do processo de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração (DDR), afirmaram nesta segunda-feira, 27, estar a enfrentar desafios de integração nas comunidades na sequência da sua exclusão na agenda de paz e nas oportunidades de assistência social.

Ao falarem no primeiro encontro regional de diálogo entre mulheres e lideranças locais em Moçambique, observam que muitas ex-guerrilheiras estão a ficar marginalizadas devido ao incumprimento de várias promessas do acordo de paz, que inclui pensões, terrenos para habitações e projetos de rendimento.

Amélia Sitole, ex-guerrilheira, observa que a falta de meios materiais e financeiros tem dificultado a sua reintegração económica, e a sua exclusão nalguns projetos de assistência social vem a agravar a sua condição social.

Filha de Afonso Dhlakama desmobilizada em Vunduzi
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“Os campos agrícolas são de aluguer e por falta de dinheiro não consigo alugar para produzir alimentos, e os projetos que aparecem no bairro não somos contempladas, como foi com as inscrições para se beneficiar dos fundos de Covid-19, os inquiridores passavam as nossas casas, bastava saber que é casa de uma ex-guerrilheira”, lamenta Amélia Sitole, em conversa com a Voz da América.

Outra antiga combatente, Linda Size, desmobilizada em junho na última base da Renamo na Gorongosa, anota que foi bem aceite na zona onde foi reintegrada em Manica, mas luta pela integração económica que lhe tire da dependência da ajuda familiar.

“Estamos a enfrentar problemas. Todas as promessas do acordo não estão a ser cumpridas; nem projeto de geração de renda, nem pensão, assim estamos zangados. Estamos mal. Muitas ex-guerrilheiras são afastadas de apoios sociais nos bairros”, aponta Size, em entrevista à Voz da América.

Por seu lado, a diretora de Género, Criança e Ação Social de Manica manifestou também preocupação com a integração das ex-guerrilheiras nos processos de desenvolvimento, social e económico, mas defendeu que vários esforços estão em curso para a sua inclusão económica e dos seus dependentes afetados pela guerra.

“Conseguimos integrar este ano cerca de 3.600 mulheres nos projetos de geração de renda, mas é necessário também olhar para esses aspetos das mulheres ex-combatentes”, frisou Ema Catana, realçando que o apoio social deve também incluir as mulheres e filhos de ex-combatentes que morreram em combates, e que hoje sofrem os danos colaterais da guerra.

Para Dércio Alfazema, diretor de programas do Instituto para Democracia Multipartidário (IMD), a marginalização de ex-combatentes contribui para a diminuição de confiança entre estes grupos e as instituições, ameaçando a sustentabilidade da paz em Moçambique.

Alfazema entende ser preciso criar ferramentas para as mulheres - que ficaram muito tempo excluídas da sociedade devido à guerra - explorarem as oportunidades a nível local.

Ele enfatiza que as antigas guerrilheiras “precisam ter mecanismo de acesso à renda, para não depender unicamente das pensões, para aceder aos mercados, para que possam ser integradas nos processos e mecanismos locais que promovem a paz”, contribuindo assim para agendas locais de desenvolvimento.

O DDR abrangeu 5.221 ex-guerrilheiros da Renamo, incluindo 800 mulheres, das quais 257 foram reintegradas nas províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia, no centro de Moçambique.

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