A China tem vindo a incrementar o seu peso económico em Moçambique, com um total de 8,5 mil milhões de dólares de investimento directo estrangeiro, atualmente, contra 546 milhões de dólares, há cerca de oito anos, apesar da enorme divida moçambicana de 2,45 mil milhões de dólares para com aquele país, havendo já a percepção de que Pequim possa cortar os créditos bonificados a Maputo.
A relação entre os dois cresce num contexto em que a China tem, sobretudo, um peso económico muito grande e também se apresenta como o principal credor, com alguns segmentos da sociedade moçambicana a considerarem que o crescente domínio do investimento chinês torna o país vulnerável aos seus interesses.
No domínio político, a China tem algum peso, e o analista Fernando Lima destaca a política chinesa de não interferência muito ativa nesta relação. ‘’As autoridades moçambicanas têm um grande espaço de manobra, não só porque não são pressionadas pela China em questões de política internacional, como noutros aspectos,’’ diz.
No entanto, Lima diz que o relacionamento entre os dois países já teve melhores dias, não porque haja má relação neste momento, mas porque Moçambique tem um crédito muito grande e não pode endividar-se mais sob o perigo de incorrer em problemas relativamente à sua própria incapacidade de pagar essa divida.
Corrupção
Ele enfatiza que do ponto de vista formal e também geral, Maputo e Pequim são bons amigos, têm bom entendimento, mas em termos concretos há certa percepção de que a torneira está fechada em termos de créditos concessionais a favor de Moçambique vindos da China, e isso não faz com que as autoridades moçambicanas se sintam amarradas nesta relação.
O analista Gift Essinalo enaltece a forma como a China faz o seu investimento em Moçambique, sublinhando que os chineses não dão dinheiro, por exemplo, “quando o Estado moçambicano pretende construir uma estrada; eles fornecem a infraestrutura, e isso reduz o campo de manobra em termos de corrupção’’.
Mas Essinalo diz ser necessário prestar atenção aos termos dos contratos, incluindo as taxas de juro que são cobradas, ‘’porque se não estivermos atentos, podemos financiar infra-estruturas que depois serão geridas pela China no nosso território’’.
Neste momento, a China é o melhor parceiro comercial do país, onde investiu cumulativamente mais de 8,5 mil milhões de dólares, e o embaixador chinês em Maputo, Wang Hejun diz que ‘’vai continuar a apoiar financeiramente Moçambique, a explorar um caminho de desenvolvimento conforme as condições nacionais, para alcançar um desenvolvimento inclusivo e sustentável e desempenhar um papel importante na região’’.
Oceano Índico
Segundo aquele diplomata, nos últimos 10 anos, o volume de negócios entre Moçambique e a China atingiu mais de 27 mil milhões de dólares.
A China, segundo dados oficiais, financiou nos últimos anos em Moçambique diversas infra-estruturas públicas, incluindo a Estrada Circular de Maputo, Aeroporto Internacional de Maputo, Estádio Nacional do Zimpeto, Procuradoria-Geral da Republica, entre outras.
Para o economista João Mosca, o crescente domínio do investimento chinês em Moçambique, traduz os grandes interesses que a China tem não só em território moçambicano, como também no Oceano Indico.
‘’A China está com muito interesse na ocupação de terras, na exploração de recursos naturais e também já manifestou interesse no gás e areias pesadas, e mais do que isso, a China tem objectivos estratégicos de longo prazo, que é ampliar a sua actividade económica e encontrar a forma mais fácil e barata de chegar aos grandes mercados na Europa e norte de África’’, diz Mosca.
Pilhagem
Alguns segmentos da sociedade moçambicana consideram controversos certos investimentos chineses em Moçambique, entre os quais a ponte Maputo-Katembe, que para Fernando Lima é um investimento, mas não sabe se é prioritário.
Entretanto, o Governo de Moçambique diz que a China tem investido em setores estratégicos e prioritários, entre os quais o da agricultura, abrindo janelas de oportunidades para a redução das importações de bens de consumo em escala e geração de emprego, por via da participação de empresários chineses, sobretudo no processamento de matérias-primas.
Refira-se que as principais exportações de Moçambique para a China são a madeira, castanha de caju e gergelim, entre outros. A madeira é na verdade, o principal produto de exportação, e é aquela cuja exploração tem sido motivo de grande controvérsia, com algumas correntes de opinião a considerarem que é uma autentica pilhagem.
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