Analistas políticos na Guiné-Bissau perspectivam discursos que podem ser violentos e um debate pobre sobre os problemas essenciais do país durante a campanha eleitoral que inicia neste sábado, 13, com vista às eleições de 4 de Junho.
Ao todo, são 20 partidos políticos e duas coligações eleitorais que durante 21 dias vão percorrer diferentes cantos do país e da diáspora, visando conquistar o maior número de deputados possível, num universo de 102 que compõem o Parlamento.
É claro que as estratégias de conquista de votos são diferentes, mas todas elas serão direcionadas para atrair os 859.914 eleitores inscritos no país e no exterior.
Fernando da Fonseca, especialista em política internacional e investigador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, diz não esperar algo diferente das anteriores eleições.
"Vamos ter discursos fora do projecto de construção do país, os discursos vão ser na base étnica e religiosa, mas não sobre as problemáticas centrais que são os projectos de governação que possam tirar a Guiné-Bissau do lamaçal em que se encontra", antevê Fonseca que diz não ter "expectativas positivas".
Aliás, aquele especialista receia que a campanha eleitoral seja marcada por agressões verbais e, por isso, deixou um conselho aos dirigentes políticos.
"Os actores políticos devem-se consciencializar sobre os riscos que a violência verbal pode levar porque os simpatizantes dos partidos políticos acabam por absorver esses discursos e tentam colocar na prática essa violências também", diz Fernando da Fonseca, que, destaque "muitas das vezes, violência fica nos discursos, mas os militantes vão a vias de facto".
Por sua vez, o sociólogo e professor universitário Tamilton Teixeira é categórico que não há como esperar por um debate mais sério sobre os grandes problemas sociais que o país enfrenta.
"Por exemplo sobre a inflação e a subida galopante dos preços dos produtos da primeira necessidade, não podemos esperar um debate muito sério e franco sobre a degradação profunda do ensino nacional, não podemos esperar um debate sobre aquilo que são os números da educação, segundo os quais 34% das meninas com idade escolar não estão indo à escola, 44% das crianças – rapazes e raparigas – com idades para escola não estão indo para escola, 46% da população é analfabeta, 40% da população dorme sem comer absolutamente nada, sou seja, fome crónica", enumera Teixeira, enfatizando haver "um conjunto de narrativas que não vão constituir elemento do debate nacional".
Para aquele docente universitário, "o debate vai ser muito pobre, a linguagem e vai ser um debate sem pedagogia alguma".
As eleições legislativas de 2 de Junho acontecem depois de o Presidente da República ter dissolvido o Parlamento em Maio de 2022, por alegada "crise política".
Umaro Sissoco Embaló marcou inicialmente as eleições antecipadas para 18 de Dezembro, mas devido à falta de recursos o Governo não conseguiu fazer o recenseamento a tempo, o que obrigou o seu adiamento.
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