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Moçambique: Gestão do futuro Fundo Soberano entregue ao banco central levanta dúvidas


Banco de Mocambique, Maputo
Banco de Mocambique, Maputo

Envolvimento de antigos gestores seniores do Banco de Moçambique no escândalo das dividas ocultas coloca questões de integridade e transparência na instituição.

Várias correntes de opinião em Moçambique dizem-se indignadas com a colocação do Banco de Moçambique (BM) como gestora do futuro Fundo Soberano, dado que o envolvimento de antigos gestores seniores do banco central no escândalo das dividas ocultas ainda levanta questões de integridade e transparência naquela instituição.

O Parlamento moçambicano adiou as sessões plenárias para o debate e aprovação da Lei do Fundo Soberano para dar mais tempo à auscultação pública do documento.

Vários sectores da sociedade moçambicana saudaram o adiamento, mas exigem que seja outra entidade a gerir o fundo.

“O banco central teve algum papel na contratação das dividas ocultas, e isso levanta questões de integridade desta entidade que se pretende seja a gestora do Fundo Soberano”, diz o economista Elcidio Bachita.

O antigo governador do BM e ex-administradora da instituição foram ouvidos no tribunal, no âmbito do julgamento das dividas ocultas, que lesaram o Estado em mais de 2,2 mil milhões de dólares.

Bachita anota que, para além disso, existem outros aspectos, nomeadamente as deficiências e incongruências nas demonstrações financeiras consolidadas do BM, que têm vindo a ser detectadas por auditores no que diz respeito aos exercícios económicos transactos.

O economista Carlos Salvadorconsidera prudente a decisão de se adiar as sessões plenárias da Assembleia da Republica, porque, entre outras questões, vai-se clarificar o papel do BM na gestão do Fundo Soberano.

Salvador defende ser necessário que a Assembleia da Republica encare a questão de Fundo Soberano com muita prudência, “para que as futuras gerações também beneficiem deste fundo”.

Por seu turno, o jurista Carlos Costa afirma existirem várias situações que fazem com que o Banco de Moçambique “não seja a entidade apropriada para gerir o Fundo Soberano, entre as quais, o facto de há dias, o governador do Banco de Moçambique, segundo a imprensa, ter faltado a um encontro com deputados da Assembleia da República para prestar esclarecimentos”.

“Para mim”, acrescenta aquele jurista, “esta é uma clara indicação de que o Banco de Moçambique não segue os princípios da transparência e por isso não pode ser a gestora operacional do Fundo Soberano”.

Entretanto, Jamal Omar, administrador do BM, entende que esta instituição “tem capacidade técnica, credibilidade e transparência suficientes para poder cumprir esta missão com sucesso”.

Refira-se que a Assembleia da República ainda não indicou novas datas para a discussão e aprovação da proposta de Fundo Soberano.

O Fundo Soberano, quando for criado, pretende, segundo o Governo, minimizar os impactos macro-económicos indesejáveis decorrentes de uma entrada excessiva de receitas na economia, ajuda também a disciplinar o uso das receitas e a criar condições para a sua gestão sustentável.

O país espera vir a encaixar 96 mil milhões de dólares nas próximas décadas em receitas obtidas com os projectos previstos de gás natural.

A proposta inicial diz que o Estado moçambicano vai canalizar 40% das receitas totais de petróleo e de gás para este fundo nos primeiros 15 anos, para depois começar a alocar 50% das receitas.

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