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Investigador alerta para "movimentos de incerteza" num novo estudo sobre Cabo Delgado


João Feijó, investigador do Observador do Meio Rural, Moçambique
João Feijó, investigador do Observador do Meio Rural, Moçambique

Estudo conclui que movimentos de regresso dos deslocados, que partem dos campos de abrigo para as zonas de origem contrasta com a chegada nestes abrigos de novos deslocados, o que coloca um futuro incerto para a população de Cabo Delgado.

Os movimentos de regresso dos deslocados, que partem dos campos de abrigo para as zonas de origem, contrastam com a chegada nesses abrigos de novos deslocados que fogem dos ataques, o que coloca um futuro incerto para a população de Cabo Delgado.

A avaliação é do investigador moçambicano, João Feijó, e está num novo estudo em que ele questiona o tipo de sociedade que se pretende criar nos distritos a norte, quando os deslocados regressam para zonas devastadas pela guerra e coabitam com os mesmos problemas que forçaram o surgimento da insurgência.

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Há milhares de deslocados que regressam às vilas sedes distritais do norte de Cabo Delgado, arruinadas pela guerra, e que aparentam agora um retorno à normalidade de condições de segurança, ao mesmo tempo que o conflito num formato de guerrilha se alastra para o sul e provoca novas fugas e chegadas nos centros de reassentamento.

“Na verdade, o que esta a acontecer em Cabo Delgado não são propriamente movimentos de regresso”, observa João Feijó, assinalando que os “movimentos circulares” são de reaproximação às zonas de origem, movidos pela repulsa das condições nos centros de acomodação, do que propriamente por questões de segurança.

O pesquisador e coordenador técnico do Observatório do Meio Rural (OMR) enfatiza que em “várias vilas sedes distritais começam agora a haver centros de deslocados” e “estamos a aproximar cenários de 2018 e 2019, em que a população vivia refugiada nas vilas sedes distritais do que nas suas aldeias que eram lugares mais inseguros”.

Entre 21 de Setembro e 3 de Outubro, 3.647 deslocados saíram de Montepuez e regressaram a Mocímboa da Praia, enquanto 1.362 regressaram a Quissanga provenientes de Macomia.

No mesmo intervalo de tempo, 4.709 deslocados chegaram aos campos de deslocados em Metuge, fugindo de ataques em Quissanga e Chiure.

Fogo não extinto no triângulo de gás

João Feijó entende que se investiu mais na segurança no triângulo em volta da economia do gás - Macomia, Mocímboa da Praia e Palma – de forma a “criar mais condições para a multinacional francesa Total poder regressar ao local porque esse regresso da população era uma das condições que a Total tinha apresentado”, para reversão da sua declaração de força maior.

Contudo, João Feijó observa que faltam profundas reformas para o regresso a um novo futuro, porque “apenas estamos a empurrar as pessoas para um sítio instável”.


“Porque continua ali os problemas sociais que alimentam a insurgência, é um fogo que ainda não foi completamente extinto, e que ainda tem focos, e as pessoas regressarem ali sem tirar os vestígios que lá estão, os riscos de as coisas inflamarem são elevados”, alerta.

“De facto a população começa a regressar e há possibilidade de o Governo pressionar a Total a reinvestir, isso por um lado é bom para o país, mas a questão que se coloca é que as pessoas estão a voltar para onde, para 2017, para o cenário para onde existiam os mesmos problemas”, de inflação dos preços, dos terrenos, desemprego, questiona Feijó.

Risco elevado

O também sociólogo observa que a insurgência “está a recorrer a guerrilha”, ao invés de actuar nas zonas onde esta mais fortificada está a se dispersar e “a actuar mais para o sul, em Ancuabe, Meluco, Montepuez, Chiure, e já estão a atacar em Namuno, o risco de ataque em Balama existe”, na medida em que a população é apadrinhada a regressar ao norte.


“Está em dúvida o que há de novo realmente”, nesse regresso da população, anota, insistindo que “não se está a fazer um trabalho, de identificar quais foram as causas deste conflito e intervir sobre estas causas e oferecer às populações uma nova sociedade”, insistindo que o “risco de as coisas voltarem ao mesmo são elevados”.

Cessar-fogo

Para aquele investigador, a duração do conflito sugere que não será resolvido por vias militares a curto prazo, daí que propõe ser “preciso começar a pensar numa solução política para o conflito”, que possa conduzir a uma pacificação da região e chegar a um novo figurino da sociedade por se reconstruir.

João Feijó entende que a solução política passa igualmente por realização prévia de profundas reformas das causas sociais e económicas que conduziram para o surgimento do conflito, “para depois haver uma base de negociação de um cessar-fogo”, com o grupo rebelde, vinca o nosso entrevista.

Mais desenvolvimento

Entretanto, o Governo aprovou na terça-feira, 8, alterações às leis de minas e petróleo, para permitir um desenvolvimento acelerado das províncias onde são operados os projetos do setor.

“Os recursos são descobertos e explorados numa determinada localização, tanto ao nível do distrito e província, pretende-se que nesses lugares se façam sentir os benefícios”, precisou Filmão Suazi, porta-voz do Conselho de Ministros.

Cabo Delgado é rica em gás natural, mas está a braços com ataques de grupos armados ligado aos Estado Islâmico desde 2017, sendo que os mesmos já se expandiram para 13 dos 17 distritos daquela província do norte de Moçambique.

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