No Brasil, o Ministério da Defesa publicou um relatório em que destaca falhas no sistema eleitorai e propõe melhorias, mas disse não existir nada que fundamente as alegações de fraude de alguns apoiantes do Presidente Jair Bolsonaro que protestam contra a sua derrota a 30 de Outubro.
O documento divulgado na noite de quarta-feira, 9, foi o primeiro comentário dos militares sobre a segunda volta eleitoral, o que suscitou protestos em todo o país, mesmo quando a transição já começou para a tomada de posse do Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a 1 de Janeiro.
Milhares de pessoas têm-se reunido à porta das instalações militares no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e noutras cidades para apelar a uma intervenção das Forças Armadas para manter Bolsonaro no poder.
Quando o Ministério da Defesa anunciou nesta semana que iria apresentar o seu relatório sobre as eleições, alguns apoiantes bolsonaristas regozijaram-se, antecipando a iminente revelação de enormes problemas. Isso não aconteceu.
O ministro da Defesa Paulo Nogueira escreveu que "não é possível dizer" com certeza que o sistema informatizado de apuramento de votos não foi infiltrado por código malicioso, mas o relatório de 65 páginas não cita quaisquer anomalias na contagem dos votos.
Contudo, com base no possível risco, o relatório sugere a criação de uma comissão composta por membros da sociedade civil e entidades de auditoria para investigar melhor o funcionamento das máquinas de votação electrónica.
Bolsonaro, que perdeu por menos de dois pontos - a margem mais estreita desde o regresso do Brasil à democracia em 1985 - não tem falado de fraude desde as eleições.
Ainda assim, a sua contínua recusa em aceitar a derrota ou felicitar o seu opositor deixou amplo espaço para que os apoiantes tirassem as suas próprias conclusões.
E isso seguiu-se a mais de um ano de Bolsonaro afirmar repetidamente que o sistema de votação electrónica do Brasil é propenso à fraude, sem nunca apresentar quaisquer provas - mesmo quando tal lhe foi ordenado pela autoridade eleitoral.
Nos meses que antecederam a votação, à medida que as sondagens mostravam vantagem de "Lula" da Silva, Bolsonaro pressionou os militares para que assumissem um papel alargado no processo eleitoral.
O Tribunal Superior Eleitoral, num gesto aparentemente destinado a aplacar o Presidente, permitiu a participação sem precedentes das Forças Armadas.
O relatório apresentado na quarta-feira foi assinado pelo ministro da Defesa e por representantes do exército, marinha e força aérea.
O Tribunal Superior Eleitoral afirmou numa declaração que "recebeu com satisfação o relatório final do Ministério da Defesa que, como todos os outros órgãos de fiscalização, não apontou a existência de qualquer fraude ou inconsistência nas máquinas de votação electrónica e no processo eleitoral de 2022".
Bolsonaro não comentou imediatamente o relatório, nem o palácio presidencial respondeu a um e-mail da AP.
O líder do seu partido disse na terça-feira que o Presidente só questionaria os resultados eleitorais se o relatório fornecesse provas "reais".
Da Silva, falando na quarta-feira na capital, Brasília, na sua primeira visita desde as eleições, disse aos repórteres que a votação foi limpa, e que o sistema electrónico de votação do Brasil é um feito.
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