Analistas divergem quanto ao XII Congresso da Frelimo que arranca a 23 de Setembro corrente na Matola, uns afirmando tratar-se de um congresso de ruptura com o passado, e outros considerando que vai ser mais do mesmo, porque não vai ser eleito o candidato do partido às presidenciais de 2024 e o antigo líder da Frelimo e da República, Armando Guebuza está muito enfraquecido.
À medida que se aproxima a data do evento, diversas forças estão a posicionar-se para este congresso, o último a ser dirigido pelo Presidente Filipe Nyusi, já que em 2024, Moçambique vai escolher um novo Presidente da República e Nyusi não se pode recandidatar.
No conjunto dessas forças, a principal é a liderada por Filipe Nyusi, e segundo analistas, não obstante ele estar a alguns anos de terminar o seu último mandato como Chefe de Estado, o congresso de 23 a 28 de Setembro, será de ruptura e afirmação de Nyusi.
O congresso está a ser antecedido pela eleição dos delegados e dos primeiros secretários provinciais da Frelimo, um processo que para o analista político e jornalista Fernando Lima tem decorrido na vertente da força dominante, que é a de Filipe Nyusi.
Para aquele analista, isto não significa que não haverá outras forças posicionadas para contrariar essa tendência, realçando que se a "tendência do presidente Nyusi sair vencedora, e tudo indica que assim acontecerá, eu penso que há, de facto, uma possibilidade duma ruptura do passado".
Mas para o analista politico e também jornalista, Moisés Mabunda, este não vai ser o congresso da ruptura, porque Filipe Nyusi vai continuar presidente da Frelimo até às eleições presidenciais.
"Seria um congresso de ruptura se fosse eleito o candidato da Frelimo às eleições presidenciais, pelo que este congresso será mais do mesmo, pois teremos um Comité Central, um Secretariado e outras estruturas internas montados ao gosto do timoneiro do Partido".
Guebuza enfraquecido
O analista político Custódio Wamusse considera também que este é o congresso de Filipe Nyusi, sobretudo porque o antigo presidente da Frelimo e da República, Armando Guebuza, cujo relacionamento entre ambos conheceu momentos menos bons, como se viu durante o julgamento das chamadas dívidas ocultas, está muito enfraquecido.
Lima considera também que Guebuza não só está enfraquecido, como também estas questões dependem de elementos conjunturais; e em todas as reuniões do Comité Central, as diferentes forças estavam lá e elas não se expressam com a veemência que, eventualmente, se podiam expressar, exactamente porque, tacticamente, não sentem que estão em momento oportuno.
Ele anotou que "se o congresso trouxer uma composição de delegados muito favorável ao presidente Filipe Nyusi, está criada uma conjuntura em que as forças adversas, mais uma vez, terão dificuldades em se expressar".
Entretanto, Moisés Mabunda afirma que isso não vai acontecer, porque enquanto o presidente do Partido for Chefe de Estado e for ele a nomear as pessoas para ocuparem cargos públicos, "não haverá uma confrontação aberta e directa, uma vez que Filipe Nyusi controla muito os concursos e todas as questões relacionadas com os investimentos, "e estes são os impedimentos maiores para se ter uma confrontação".
Na opinião daquele analista, "os membros da Frelimo, por mais que sejam da ala de Armando Guebuza, precisam de continuar com os seus negócios, que lhes sejam adjudicadas empreitadas e continuar a exercer cargos públicos, e isto enfraquece de alguma maneira".
"Penso que não haverá uma confrontação aberta por causa destes constrangimentos todos, que são reais, porque não se pode ir à frente sob o risco de terem os seus negócios destruídos pelo poder do dia, que está a ser controlado pelo actual Chefe de Estado e presidente do Partido; nós estamos em África e sabemos como é que as coisas funcionam", realçou Mabunda.