Analistas políticos moçambicanos classificam com atitude bastante positiva o pedido de desculpas que o Governo de Portugal fez a Maputo pelo massacre de Wiriamu, na província de Tete, porque significa que o povo português está ressentido por isso, mas dizem que se houvesse indemnização aos familiares das vítimas seria muito mais positivo.
O pedido foi feito pelo primeiro-ministro português, António Costa, durante a sua visita a Moçambique, na semana passada, quando classificou o massacre de 1972, em que foram mortas cerca de 400 pessoas, como um “acto indesculpável que desonra” a história de Portugal.
“Neste ano de 2022, quase decorridos 50 anos sobre esse terrível dia de 16 de Dezembro de 1972, não posso deixar aqui de evocar e de me curvar perante a memória das vítimas do massacre de Wiriamu, acto indesculpável que desonra a nossa História”, afirmou António Costa, perante o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.
Para o sociólogo Moisés Mabunda, "é bem-vindo o pedido de desculpas, porque demonstra o cometimento dos dois Estados em ultrapassar uma fase não muito boa da história de Moçambique, de Portugal e do mundo, que é a fase do colonialismo".
"Hoje por hoje estamos a dizer que o mundo é global, as fronteiras são cada vez mais ténuas, há muita interação, o objectivo do mundo já não é aquele nacionalismo extremo, há cada vez mais convivência entre cidadãos de todo o mundo, há mais português a virem para Moçambique e mais africanos a irem para a Europa", aponta aquele analista político.
Há quem entenda, entretanto, que por detrás deste pedido de desculpas haja algum interesse ou um acordo comercial que Portugal pretende ver materializado.
Mas esta não é a opinião de Moisés Mabunda, porque, frisou, Portugal tem sido bastante privilegiado em termos de investimentos em Moçambique.
Por seu turno, o jornalista Alexandre Chiure diz que o pedido de desculpas é acto raro e histórico de reconhecimento deste terrível acontecimento, mas acha que o Governo português devia indemnizar familiares das vítimas do massacre.
O jurista e analista político, Ignésio Inácio, diz que o primeiro-ministro português, António Costa, faz parte das figuras políticas mais abertas e mais reconciliatórias, e daí este pedido de desculpas, um acto que honra o povo português.
"Voce pode dizer que é tarde, mas para mim, o mais importante é que Portugal reconheceu a crueldade do massacre", acrescenta.
Entretanto, para o analista político Moisés Mabunda, o único senão é a circunstância em que o pedido de desculpas foi feito, num jantar, "teria sido bastante positivo se tivesse sido na Assembleia da República ou na Presidência da República".
A 16 de Dezembro de 1972, em Wiriamu, na província de Tete, cerca de 400 civis desarmados foram mortos por militares portugueses.
O massacre foi dado a conhecer ao mundo por um jornalista inglês, Peter Pringle, num artigo do jornal The Times, em 1973, depois de a história ter sido denunciada por missionários estrangeiros a trabalhar na área de Wiriamu.