Analistas políticos e sociais angolanos consideram que o pensamento político de José Eduardo dos Santos acarreta aspectos positivos e negativos, mas representa também um fardo bastante pesado para o angolano de uma maneira geral.
Alguns apontam a perseguição a adversários políticos, assassinatos de pessoas críticas à governação e, inclusive, auxílio no derrube de presidentes de países vizinhos de Angola.
Mas há quem lembre o seu papel na pacificação da região.
A VOA falou com pessoas que seguiram de perto, cada uma à sua maneira, a trajetória do antigo Presidente José Eduardo dos Santos desde a sua ascensão em 1979, quando foi empossado Presidente da República, em substituição do primeiro presidente Agostinho Neto, entretanto falecido.
Tunga Alberto, que dirigiu o FONGA, uma organização que englobava várias associações da sociedade civil, diz ter memória de traços de um legado na estreia dele da sociedade civil, mas que veio a ser aniquilada a seguir.
"Eu, pelo menos, tenho algumas acções de José Eduardo dos Santos em que ele teve o protagonismo como pai da sociedade civil angolana, quando em 1994/95, no primeiro encontro organizado em conjunto pelo FONGA e a Casa Civil da Presidência da República, em que juntou todas as organizações humanitárias e da sociedade civil”, lembra Alberto, quem lamenta que “todas aquelas organizações da sociedade foram sendo exterminadas".
Makuta Nkondo, na qualidade de jornalista da Angop e ao serviço da agência de notícias de França aponta um legado pesado e totalmente negativo.
"Ele ajudou, com as tropas do Ruanda, Uganda e Zimbabwe no derrube de Mobutu no Congo, também teve contribuição na deposição do presidente Pascal Lissouba, no Congo Brazaville, os que apregoam que José Eduardo dos Santos foi o timoneiro da paz e daquilo... não se faz a paz em cima do cadáver de outro, ele matou Savimbi para ter esta paz, tornou a sua filha na mulher mais rica de África, entregou milhões e milhões de dólares ao seu filho “Zenu” dos Santos no Fundo Soberano, transformou todos os seus ministros, colaboradores e amigos em ricaços, como grandes magnatas", recorda o hoje deputado pela CASA-CE.
Leitura diferente tem a professora e especialista em Relações Internacionas Emília Pinto, quem lembra que "os líderes africanos têm hoje Angola como uma grande referência na resolução de conflitos graças ao contributo de José Eduardo dos SAntos, do ponto de vista da diplomacia, pelo empenho dele, Angola é hoje um dos maiores contribuintes das organizações de carácter africano, teve um papel importante na pacificação da região dos Grandes Lagos e também no processo que conduziu Angola a membro do Conselho de Segurança da ONU".
José Eduardo dos Santos dirigiu Angola de 1979 a 2017, tendo sido responsável pelo fim da guerra civil, o acordo de paz em 2002 com a UNITA e acordos que levaram à Independência da Namíbia e à queda do reigme do apartheid na África do Sul.