Organizações de promoção e defesa dos direitos humanos denunciam más condições de acomodação no centro de acolhimento de Calueque na província angolana do Cunene aberto pelo Governo angolano para receber cidadãos retornados da vizinha República da Namíbia.
A falta de casas de banho em número razoável e o facto de muitas destas pessoas que se estimam acima das três mil terem sido forçadas a regressar ao país contra a sua vontade são algumas denúncias das organizações.
O director executivo da Associação Ame Naame Omunu, (ANO), que opera no Cunene, Gaudêncio Yukuleinge, em face do que viu, diz estar preocupado com o futuro principalmente de crianças e jovens ali concentrados.
“O que nos preocupa é o futuro daquelas crianças, o futuro daqueles jovens e o futuro daqueles nossos irmãos. Uma parte deles reclama que gostaria de continuar na Namíbia porque lá as condições eram outras”, afirma Yukuleinge.
Entretanto, para aquele sacerdote católico, a prioridade do Governo devia passar por atender os milhares de angolanos que passam fome nas aldeias do interior da província do Cunene.
“Nas aldeias temos ainda muita gente que está a morrer de fome, que não têm comida e que a meu ver ao invés de se ir buscar (na Namíbia) aquelas pessoas, deveria procurar satisfazer, atender estas pessoas que estão nas aldeias”, defende.
Para ele, esta “é a razão pela qual as pessoas que estão nas aldeias também estão a vir, outras querem entrar na Namíbia e ali encontram dificuldades agora, não como antes que eram acolhidas, mas agora estão a encontrar dificuldades”.
O padre Gaudêncio Yukuleinge mostra-se esperançoso quanto ao futuro destas pessoas, mas volta a lembrar que este desafio só seriá enfrentado com a declaração do estado de emergência no sul de Angola.
Quem também defende melhorias no centro de acolhimento de Calueque é o activista Domingos Fingo, que pela Associação Construindo Comunidades, (ACC), visitou recentemente a província do Cunene.
“ As condições de acolhimento não são apropriadas. Vimos que em cada tenda refiro-me, tinha cerca de duas famílias e os membros dessas famílias estavam a dormir no chão por cima da areia, outros por cima de panos. Um ou outro colchãozinho é que estava em cada tenda”, conta.
O Governo de Angola iniciou no mês de Janeiro, por via da Casa Militar, um programa para fazer regressar da Namíbia milhares de angolanos que fugiram para aquele país por causa da fome.
Estima-se em 20 mil o número de pessoas das províncias da Huíla, Namibe, Cuando Cubango e Cunene que forma para a Namíbia.