Analistas sociais angolanos subscrevem o conteúdo do recente relatório da União Africana, da Organização para Alimentação e Agricultura e do Fundo das Nações Unidas para a Infância sobre os altos níveis de subnutrição no país e advertem que “a situação pode comprometer o futuro por afectar essencialmente crianças e adolescentes”.
O relatório apresenta uma taxa de prevalência da desnutrição de 17,3%, ao nível dos países africanos de língua oficial portuguesa, apenas ultrapassada por Moçambique com 31,2%.
Para Fernando Pinto, líder da Associação Nacional Justiça e Pão de Angola (Anjupana), que se dedica ao apoio às crianças desamparadas, "as altas taxas de subnutrição no país estão na base do fenómeno da desestruturação das famílias”.
“Estamos a comprometer o futuro da nação”, defenda aquele líder associativo.
Por sua vez, o activista social André Augusto reprova o apoio à produção agrícola em grande escala, seguida pelo Governo, em detrimento da agricultura familiar que, em sua opinião“ permite que as populações tenham uma dieta saudável e equilibrada”.
“Não há investimento sério na agricultura familiar em Angola em termos de acompanhamento do campo e isso faz com que haja ausência acentuada da alimentação e ao mesmo tempo a má nutrição e outras situações que afectam a sociedade”, afirma.
A VOA contactou o director do Instituto Nacional da Criança (INAC), Paulo Kalesi, mas este remeteu o assunto ao secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda, que não atendeu às insistentes chamadas .
As três agências recomendam apoio internacional para apoiar a transformação dos sistemas agro-alimentares do continente, já afectado por conflitos e alterações do clima, e sustentam que, com a desaceleração das economias causada pela pandemia, a África viu agravadas ainda mais as principais causas da fome.
O relatório revela que 44,4% das pessoas desnutridas vivem na África Oriental, 27% na África Ocidental, 20% na África Central, 6,2% no norte de África e 2,4% na África Austral.
Nos países de língua portuguesa, Angola apresenta uma prevalência da desnutrição de 17,3%, Cabo Verde tem 15,4%, Moçambique 31,2% e São Tomé e Príncipe 11,9%.
O relatório recomenda apoio internacional para a transformação dos sistemas agro-alimentares do continente, já afectado por conflitos e alterações do clima, e que com a desaceleração das economias causada pela pandemia viu agravadas ainda mais as principais causas da fome.