O Governo cubano cortou a internet nas primeiras horas desta segunda-feira, 12, um dia depois de milhares de pessoas terem saído às ruas do país para protestar contra a crise económica, por mais vacinas e por liberdade.
As ruas da capital, Havana, e de outras cidades também estavam cheias de polícias e militares para evitar quaisquer protestos.
As manifestações, proibidas e sufocadas sempre, invadiram as redes sociais, com vídeos de protestos em várias cidades, inclusive em San Antonio de los Baños, onde o Presidente Miguel Diaz-Canel estava de visita no domingo.
Facebook, WhatsApp e Telegram foram desactivados, embora a pouco a pouco algumas pessoas tiveram acesso àquelas plataformas.
Restringir o acesso à internet tem sido um método usado para sufocar a dissidência de regimes autoritários em todo o mundo, ao lado de campanhas e propaganda de desinformação apoiadas pelo governo.
Regimes como a China e a Coreia do Norte, bem como Governos como do Uganda, têm optado por esta política, enquanto outros, como Nigéria, preferem eliminar algumas plataformas como o Twitter, depois de empresa ter retirado do ar frases do Presidente Muhammadu Buhari.
Alp Toker, director da Netblocks, uma empresa de monitoria de internet com sede em Londres, disse que a política de desligar ou reduzir ao máximo a internet “parece ser uma resposta aos protestos alimentados pelas redes sociais".
Nos últimos tempos, o Governo alargou o acesso à Internet, o que aumentou a actividade nas redes sociais, mas “o nível de censura também aumentou”, segundo Tóker.
Ele lembra que o corte não apenas bloqueia as vozes externas, mas também abafa "a voz interna da população que queria se manifestar".
A revolução móvel deu aos cubanos acesso à internet em tempo real e em qualquer lugar e a capacidade de compartilhar informações entre si, acrescentou. Desde o início de 2019, esse acesso facilitou eventos e protestos regulares, embora menores, na ilha e, em resposta, o Governo suspendeperiodicamente o acesso às mídias sociais.
Protestos
Ontem, o mundo e as autoridades surpreenderam-se com milhares de pessoas nas ruas a desafiarem o regime comunista.
Em San Antonio de los Baños, os manifestantes gritavam "Pátria e vida", nome de música que distorce o lema castrista “Pátria ou morte”, "Abaixo a ditadura" e "Não temos medo".
O Presidente Diaz-Canel, que tinha acabado de regressar a Havana proveniente de San Antonio de los Banos, disse que muitos manifestantes eram sinceros, mas manipulados por campanhas de mídia social orquestradas pelos EUA e mercenários no local, e advertiu que mais "provocações" não seriam toleradas.
Houve protestos também a centenas de quilómetros a leste do país, em Palma Soriano, Santiago de Cuba, onde um vídeo divulgado nas redes sociais mostrou centenas de pessoas a marchar pelas ruas.
Biden apoia protestos e Diaz-Canel responsabiliza os Estados Unidos
Nesta segunda-feira, 12, o Presidente americano manifestou o seu apoio aos manifestantes e pediu ao Governo de Cuba que "ouça" os manifestantes que exigem o fim da "repressão" e da pobreza.
"Estamos ao lado do povo cubano e do seu clamor por liberdade e alívio das trágicas garras da pandemia e das décadas de repressão e sofrimento económico a que tem sido submetido pelo regime autoritário de Cuba", disse Joe Biden em comunicado, no qual reitera que os “Estados Unidos conclamam o regime cubano a ouvir o seu povo e a atender às suas necessidades neste momento vital".
Também hoje, o Presidente cubano, Miguel Diaz-Canel, disse que as sanções económicas dos EUA foram a causa da turbulência, tendo referido à "política de sufocação económica para provocar agitação social no país".