Milhares de cubanos saíram às ruas de várias cidades, da capital Havana a Santiago, em protestos contra a situação económica, a crise da Covid-19 e por liberdade, neste domingo, 11.
Os protestos são muito raros no país comunista, cujo Governo responde sempre com repressão a este tipo de manifestações.
O Presidente cubano, Miguel Diaz-Canel, num discurso transmitido pela televisão, responsabilizou os Estados Unidos pelos protestos.
Carros de forças especiais, com metralhadoras, foram vistos na capital, Havana, enquanto Diaz-Canel convocava os seus apoiantes a enfrentarem as “provocações”.
"Estamos conclamando todos os revolucionários do país, todos os comunistas, a ir às ruas onde quer que haja um esforço para produzir essas provocações", acrecentou o também secretário-geral do Partido Comunista Cubano, reiterando que não permitirá que “nenhum contrarrevolucionário, mercenário, vendido ao Governo dos EUA, recebendo dinheiro das agências, provoque desestabilização no nosso povo".
Um repórter da Reuters testemunhou a polícia a atirar gás pimenta em alguns manifestantes, enquanto outros agentes batiam nos participantes, sem que se tivesse registado, no entanto, confrontos directos com os milhares que gritavam "Liberdade" e “Diaz-Canel, demitem-se”.
Alguns apoiantes do Governo, em pouco número, gritavam “Fidel”.
Os protestos começaram no município de San Antonio de los Banos, na província de Artemisa, na fronteira com Havana, com vídeos nas redes sociais a mostrar centenas de residentes a gritar palavras de ordem contra o Governo, enquanto exigiam por vacinas, electricidade e melhorias económicas.
“Acabei de andar pela cidade procurando comprar comida e havia muitas pessoas lá, algumas com cartazes, em portal”, disse Claris Ramirez por telefone, acrescentando que “elas protestam contra os apagões, que não há remédio”.
Em San Antonio de los Baños, os manifestantes gritavam "Pátria e vida", nome de música que distorce o lema castrista “Pátria ou morte”, "Abaixo a ditadura" e "Não temos medo".
O Presidente Diaz-Canel, que tinha acabado de regressar a Havana proveniente de San Antonio de los Banos, disse que muitos manifestantes eram sinceros, mas manipulados por campanhas de mídia social orquestradas pelos EUA e mercenários no local, e advertiu que mais "provocações" não seriam toleradas.
Houve protestos também a centenas de quilómetros a leste do país, em Palma Soriano, Santiago de Cuba, onde um vídeo divulgado nas redes sociais mostrou centenas de pessoas a marchar pelas ruas.
“Eles estão a protestar contra a crise, que não há comida nem remédios, que há que comprar tudo nas lojas de moeda estrangeira, e a lista continua”, disse Claudia Pérez.
O país tem experimentado o agravamento da crise económica nos últimos dois anos, situação que o Governo atribui principalmente às sanções americanas e à pandemia.
Uma combinação de sanções, ineficiências locais e a pandemia paralisou o turismo e desacelerou outros fluxos de receitas estrangeiras num país dependente delas para importar a maior parte de seus alimentos, combustíveis e insumos para a agricultura e a indústria.
A economia contraiu 10,9% no ano passado e 2% até Junho.